Um mosquito em nossas vidas!
22/06/2011 23:19
Um Mosquito em Nossas Vidas !
José Márcio Soares Leite*
Creio que quem lê este título, vai pensar inicialmente que estamos comentando algum filme de Walt Disney, desses que a Rede Globo de Televisão, costuma exibir entre o período natalino e a virada do ano.
Infelizmente, contudo, se trata de algo bem mais real, de algo muito grave, que pode afetar compulsoriamente nossa saúde, nossa vida. Refiro-me a existência no mundo de cerca de 2.700 espécies de mosquitos, organizadas em cerca de 35 gêneros. Muitas destas espécies de mosquitos, são vectores na transmissão de doenças para o homem, como por exemplo:
- Culicidae
- Anopheles - vector da malária
- Aedes
- Aedes aegypti - vector do dengue (Género: Flavivirus) e febre amarela (Género: Flavivirus)
- Aedes albopictus - vector do dengue e de vários tipos de encefalite equina
- Culex - vector de vários vírus de encefalite como o do Nilo ocidental (Género: Flavivirus).
- Haemagogus - vector da febre amarela (Género: Flavivirus)
- Mansonia - vector da Filariose
- Psychodidae
Leio, portanto, com muita preocupação, notícia publicada no Jornal O Estado do Maranhão, de 10 de janeiro de 2008 sob o título Dengue continua Avançando em São Luís, com o comentário dos dados fornecidos pela Secretaria de Saúde de São Luís, mostrando resumidamente que o número de casos da doença aumentou 152%, no período 2006/2007, ou seja, 3401 casos em 2007, contra 1346 casos em 2008. E prossegue: Em 2007 tivemos 107 casos de dengue hemorrágico, menos que os 126 de 2006, porém com maior número de mortes, 21 casos, dos quais vinte tinham idade inferior a 10 anos. No dia seguinte é a Internet que nos informa da incidência de casos isolados de Febre Amarela na região Centro Oeste do Brasil.
Quando fui Secretário de Saúde de São Luís, período 1993/1996, tive a oportunidade de desenvolver uma vigilância em saúde, constante sobre as doenças transmitidas por vetores, como a Dengue, a Leismaniose e a Malária e sobre as endemias como a Esquistossomose, a Leptospirose e a Doença de Chagas.
Tivemos, contudo, em 1994, uma epidemia de Dengue na capital e todo interior do Estado. Em 1995, com o apoio do Ministério da Saúde (Funasa) e da Organização Panamericana de Saúde-OPAS, deflagramos em toda cidade uma ação focal (destruição das larvas ) e perifocal (inseticida ). Isso só foi possível com a participação de toda população, por meio do trabalho de educação em saúde de 800 Conselheiros de Saúde em todos os Bairros, e usando como estratégia operacional, cada um dos sete Distritos Sanitários de São Luís.
Ao final de 1996, em relação à Dengue, já tínhamos outro realidade e ainda bem que guardei os números, os quais publiquei no meu livro Na Contramão da Doença (Clara Editora, São Luís,2004):
Número de habitantes/visitados=548.082
Número de localidades=162
Número de prédios visitados=145380
Número de criadouros potenciais de Aedes Aegypti encontrados=150.803
Número de depósitos de água tratados=1.423.175
População vacinada contra febre amarela= 95,4%
Índice de infestação predial=1,03% (acima de 5%, segundo a Organização Mundial de Saúde ), é um indicativo de que poderemos ter uma epidemia a qualquer momento).
Leio também que em Belo Horizonte-MG, a Vigilância Epidemiológica está utilizando uma tecnologia interessante: são armadilhas de mosquitos colocadas nos domicílios. Quando os Agentes de Saúde voltam às casas, informam à Central de Vigilância, por meio de um Palmtop, o número de mosquitos Aedes Aegypti capturados. Desse modo, tornarmos a ação o de combate à Dengue, mais racional, mais econômica, e principalmente utilizaremos o inseticida somente em áreas de grande infestação pelo mosquito, evitando-se ao máximo a poluição do ambiente.
Neste ponto, é hora de no dizer de Alvin Tofler, o autor de O Choque do Futuro, que, em recente entrevista à Revista Veja, fala de “uma sociedade investigativa”, em que tudo será monitorizado com os objetivos específicos de marketing e com o fito de melhorar a qualidade em todas as modalidades de criação e de atuação do homem. O “objetivo será sempre o de saber mais para servir melhor”.
Os mosquitos existem há 170 milhões de anos, e vão nos acompanhar durante toda nossa vida. É óbvio que não vamos nunca nos acostumar com eles, até porque já temos que nos livrar das doenças genéticas, das crônico-degenerativas, como as reumatológicas, as cardíacas etc, dos acidentes e violências e agora a nos preocupar, a nos incomodar, mais estes danados desses mosquitos, que por mais paradoxal, que possa ser terminam se constituindo em um grande alerta para as autoridades sanitárias, o de que a saúde pública no Brasil, vai muito mal.
* médico, professor e Mestre em Ciências da Saúde