Pedro da Silva Nava

22/06/2011 21:35

 

Dr. Pedro Nava

 

 

No dia 05 de junho de 1903, 20 horas e 30 minutos, Pedro da Silva Nava nasce, em Juiz de Fora, Estado de Minas Gerais, na casa senhorial da Rua Direita, 179. Seus pais, o médico cearense José Pedro da Silva Nava e sua esposa, a mineira Diva Mariana Jaguaribe Nava, chamada Sinhá Pequena.  
No dia 13 de julho de 1905, no estado do Ceará, é batizado. Padrinhos Joaquim Feijó de Melo e Ana Cândida Pamplona Nava Feijó. Em 1910 torna-se aluno do Colégio Andrés, em Juiz de Fora. Mudança da família para o Rio de Janeiro. Residência, Rua Aristides Lobo, 106, no bairro do Rio Comprido. 
 No dia 30 de julho de 1911, morre-lhe o pai. A mãe, grávida de quase nove meses, volta com os filhos para a cidade natal. Em 1913, ocorre o falecimento da avó materna, Inhá Luísa, em cuja casa haviam ido residir. Dona Diva muda-se, então, com os filhos para Belo Horizonte.  
Pedro Nava termina seus estudos no Ginásio Anglo-Mineiro como aluno interno, em 1914. Torna-se amigo de Afonso Arinos de Melo Franco. Dois anos depois, em 29 de fevereiro, muda-se para o Rio de Janeiro. Vai morar com os tios Antônio e Alice Sales. Começa a freqüentar a Livraria Garnier em companhia do tio. No dia 4 de abril, é matriculado no Curso de Humanidades do Colégio Pedro II, no bairro de São Cristóvão, e freqüenta-o até 1920. Novamente colega de Afonso Arinos de Melo Franco.
Em 1920, conclui, com láurea, o curso no Colégio Pedro II e, no ano seguinte, volta a Belo Horizonte, ingressando na Faculdade de Medicina. Faz amizade também, entre outros, com Prudente de Morais Neto e o futuro presidente da república, Juscelino Kubitschek de Oliveira. Em setembro, Pedro Nava consegue seu primeiro emprego na Secretaria de Saúde e Assistência do Estado de Minas Gerais. Em 1922 torna-se sócio do Clube Belo Horizonte, participando de rodas de conversas de bar e, em 1923, começa a freqüentar o Café Estrela, situado na Rua da Bahia. Do Grupo do Estrela fazem também parte os escritores Carlos Drummond de Andrade, Abgar Renault, Emílio Moura, Aníbal Machado, João Alphonsus, bem como os políticos Milton Campos, João Pinheiro Filho, Gabriel Passos, Pedro Aleixo, futuro vice-presidente brasileiro.  
No ano de 1925, encontra-se com os modernistas paulistanos em Belo Horizonte. Junto com amigos, ciceroneia o grupo em visita a cidades históricas de Minas Gerais. Colabora com poemas n´A Revista, órgão modernista mineiro. Em 1928 ilustra o Macunaíma, de Mário de Andrade.  
Em 1931 muda-se para Monte Aprazível, no oeste paulista, abalado com o suicídio da namorada, doente de leucemia. Dois anos depois, muda-se para o Rio de Janeiro, indo residir na casa dos tios Maria e Heitor Modesto, em Copacabana, à Rua Santa Clara, 188-A.  
Ilustra o Roteiro Lírico de Ouro Preto, do amigo Afonso Arinos de Melo Franco, em 1938. Neste mesmo ano, escreve o poema “ O Defunto”.  
Em 29 de junho de 1943 casa-se com Antonieta Penido. O casal vai residir à Rua da Glória, 190. No ano seguinte, Autores e Livros publica, a 10 de setembro, os poemas “ O Defunto”, “Mestre Aurélio entre rosas “ e “Episódio sentimental”, com uma biografia do autor por Manuel Bandeira.  
Em 1946, figura na antologia Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos, organizada por Manuel Bandeira. Um ano depois, publica seu primeiro livro, Território de Epidauro. Torna-se membro correspondente de várias sociedades de medicina, da França e da Itália.  
Torna-se Diretor, por concurso, em 1948, do Departamento de Clínica Médica. Membro da Academia brasileira de História das Ciências. Viaja à Europa, indo à Inglaterra, à França, à Itália, à Bélgica e a Portugal para aperfeiçoar e atualizar estudos médicos e, em 1949, torna-se Membro do Instituto Histórico e geográfico de Minas Gerais. Neste mesmo ano pinta, em óleo sobre madeira “Ilha da Boa Viagem”, vista a partir de sua residência, na Rua da Glória e “Vista da Igreja da Glória.  
Cavaleiro da Legião de Honra, França, 1951, e viagem de estudos à Europa, designado pelo Ministério da Educação e Saúde do Brasil para estudar  a organização de Clínicas Reumatológicas em diversos países e o ensino da especialidade médica. Em 1955, novas viagens à Europa: na França, representa o Conselho Nacional de Pesquisa na exposição do Palais de la Découverte, sobre a vida e a obra do cientista brasileiro Carlos Chagas, tendo sido um dos organizadores desta exposição. Torna-se membro honorário e membro correspondente de diversas associações médicas francesas e portuguesas. Vai também à Itália.  
Diretor-presidente da Policlínica Geral do Rio de Janeiro em 1956, tendo se tornado Membro titular da Academia Nacional de Medicina, um ano depois. Sócio benemérito da Policlínica geral do Rio de Janeiro.  
Estagiário no Instituto Português de Reumatologia, em 1958. Ministra conferências como convidado e hóspede da instituição. Membro honorário da Societé Nationale Française de Médicine Physique. Estagia nos hospitais  Lariboisière, Ténon, Pitiè de Paris. Em 1960 torna-se Membro honorário da Sociedade Chilena de Reumatologia .
No ano de 1961 recebe, de Portugal, a Ordem Militar de Cristo, no grau de Comendador. É nomeado, por concurso de títulos e trabalhos, chefe de Clínica Médica, da Policlínica geral do Rio de Janeiro.   
Publica “ Evocação da Rua da Bahia”, dedicado a Carlos Drummond de Andrade, em 1965. Dois anos depois, é publicado , pela editora Macunaíma, em edição de luxo, com ilustrações de Calasans Neto, o poema “ O Defunto”.  
No dia 1o de fevereiro de 1968 começa a redigir as memórias, aos 64 anos e no ano seguinte, falece-lhe a mãe. Em 1972 ocorre a publicação de Baú de ossos, pela Editora Sabiá. Um ano depois, recebe os Prêmios Luísa Cláudio de Sousa (do PEN Clube) e Personalidade Global - Setor Literatura (Rede Globo de televisão e jornal O Globo). Sai Balão cativo.  
Em 1974 recebe o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte e, em 1975, o Prêmio Machado de Assis de Memórias ou Crônicas, do IX Concurso Literário da Fundação Cultural do Distrito Federal, por Balão Cativo.  
Publica, em 1976, Chão de ferro e, dois anos depois, sai o 4o volume de memórias, Beira-mar.  
Em 1980, na Argentina, é publicado Poliedro, uma seleção de textos do Baú de ossos e de Balão Cativo, organizada por Maria Julieta Drummond de Andrade. Um ano depois é publicado Galo-das-Trevas - As Doze Velas Imperfeitas. Recebe o prêmio destaque (Ele/Ela ).  
Em 1983 sai o último volume completo de suas memórias, O Círio Perfeito. No dia 15 de julho, Pedro Nava é empossado no cargo de Presidente em Comissão do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, da Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Participa de debate, “ O Rio de Pedro Nava “, sobre a destruição das cidades, principalmente a do Rio de Janeiro, com outros escritores, urbanistas e arquitetos. O evento inaugurou a exposição “ Pedro Nava - Tempo, Vida e Obra “, alusivo aos 80 anos do memorialista, promovido pela Fundação Casa de Rui Barbosa.  
Em 1984 O Círio Perfeito é premiado, em março, com o Livro do Ano, da Secretaria de Estado de Cultura de São Paulo. No dia 13 de maio: suicida-se na Rua da Glória, deixando incompleto, o livro Cera das almas.  
Uma Infância Nômade 
Nascido no período histórico conhecido como República Velha, em sobrado juizforano tradicional – no qual reinava a Nhá Luísa, sua avó materna - o primogênito de José Pedro e de Diva Mariana, também chamada Sinhá Pequena, é levado, com pouco mais de dois anos de idade, ao estado nordestino do Ceará, para ser batizado. Esta viagem seria apenas o primeiro dos muitos outros deslocamentos de sua vida de jovem nômade. Mesmo quando já idoso, Pedro Nava continuará a sentir-se interiormente solicitado a regressar às origens: é, por exemplo, o apelo, não respondido, que lhe vem de São Luís do Maranhão, para ele, a estranha e perturbadora cidade de onde, um dia, viera  para Fortaleza seu avô paterno. 
Como vários outros escritores mineiros ligados ao Modernismo, Nava oscila, durante seu período de formação, entre a cidade natal, a capital do estado e a capital federal. Uma educação masculina nos moldes da elite da República Velha brasileira, de forte extração rural, muito mais do que metropolitana, usualmente abrangia esta etapa  inicial, municipal ou local, para o ensino fundamental , seguida de outra estadual, na capital, para o ensino de nível médio e superior, e, finalmente, a fixação de residência no Rio de Janeiro, então capital federal.Com algumas variações, como o internato  em instituição pública  ou , segundo a preferência de  famílias mais religiosas e tradicionais  pelo  ensino confessional católico, em estabelecimentos dirigidos por congregações religiosas, este era o modelo seguido pelas elites.      
Em Baú de ossos, o memorialista narra :“Nunca conheci madrinha de carregar, pois fui para o batismo com minhas próprias pernas, andando o trecho da Rua Formosa que vai até a Santa Casa da Misericórdia, em cuja capela recebi (em nome do Padre, do Filho, e do Espírito Santo) o sal, o óleo, a saliva, a fusão e o nome de meu avô.” 
Afilhado da avó paterna, Nava regressa ao Ceará em 1919, já adolescente, para conhecê-la melhor, na casa em que residia, com a irmã, Marout, e as filhas (entre as quais a tia Alice, casada com o tio Salles).Quarenta anos depois, mais uma vez retornará às plagas paternas. Desta feita, para ministrar um curso na universidade: já estão mortos quase todos os parentes que lhe povoaram a infância, exceto a tia Alice: preenche, então, imaginariamente, as salas da casa avoenga com estas sombras familiares de sua adolescência. 
O Menino é o Pai do Homem? 
Suas primeiras letras, cursou-as em Juiz de Fora, no Colégio Andrès. Sobre este tempo, conta, em Baú de Ossos: “Não me lembro da cara nem do nome de um só colega, de uma só colega do Andrès. Vejo-os, sem detalhe fisionômico ou contorno físico - estarrecidos no ar da sala de jantar ou no recreio, diluídos ao sol, como as figuras de confete da arquibancada do Circo de Seurat!”. 
A família se muda para o Rio de Janeiro, mais exatamente para a casa da Rua Aristides Lobo, 106. Próximo, no n