História da Especialização Médica
22/06/2011 23:28
HISTÓRIA DA ESPECIALIZAÇÃO MÉDICA
Lybio Martire Junior
A medicina atualmente é especializada, surgindo inclusive novas especialidades e dentro destas, algumas sub-especialidades. É comum ouvir-se entretanto, que as especializações diminuem o campo de visão do médico e há normalmente alusões ao conhecimento total da ciência médica que os antigos “médicos de família” possuíam. Isto dá idéia de que a especialização é algo bastante recente, fruto de nossos dias, de nosso tempo e que o profissional que tratava a todos e de todas as patologias sempre existiu. A verdade não é bem assim, já na antiguidade, alguns milênios antes de Cristo, os egípicios já possuiam médicos especialistas. Os papiros, como também monumentos erigidos para alguns desses profissionais, são documentos históricos desta realidade. Havia no antigo Egito médicos especialistas em moléstias oculares que realizavam cirurgia de catarata, especialistas em moléstias de vias respiratórias, entre outros.
Na China , nas instituições de Chou , compiladas vários séculos antes de Cristo, está descrita a organização hierárquica dos médicos , o que de certo modo , não deixa de ser uma forma de especialização. Havia cinco categorias de médicos: Médico Chefe ( que coletava medicamentos e examinava outros médicos) ; Médico Dietólogo ( que receitava as seis classes de alimentos e bebidas) ; Médico para enfermidades simples ( como dores de cabeça, resfriados, feridas menores etc...) ; Médico de úlcera (talvez cirurgiões) e Médicos de animais ( portanto veterinários).
Na Grécia, onde a medicina ganhou o completo racionalismo, e em Roma, não havia especialistas como entendemos hoje, os médicos exerciam a clínica e a cirurgia concomitantemente, entretanto, havia aqueles engajados no exército que acabavam por “especializar-se” mais no tratamento dos traumas de guerra.
Após a queda do império Romano, na Idade Média, todo o conhecimento cientifíco se desfez e teve sua evolução estagnada. A medicina ocidental passou a ser exercida dentro dos conventos da Europa, guardada por monges que se limitaram ao que havia sido deixado por Hipócrates na Grécia e pôr Galeno em Roma. Dentro dos conventos praticava-se a clínica e alguns procedimentos cirúrgicos. Ao final da Idade Média, no período chamado Renascimento, a partir do século XV, em todas as áreas o pensamento humano se desenvolve em uma redescoberta do homem e de sua capacidade intelectiva, os profissionais de medicina começam a estudar novamente anatomia, alastrando o conhecimento cientifíco.
Mas a tendência à especialização nos moldes como a conhecemos, inicia-se na verdade a partir do século XVIII, isto porque, com o avanço da ciência em todos os campos, com novas descobertas, com novos estudos a medicina também amplia seus horizontes. A especialização médica surge então como fruto da evolução do conhecimento, pois o homem, no curto espaço de sua vida não teria mais possibilidade para dedicar-se integralmente a todos os ramos da ciência que crescia a cada dia. A cardiologia nasce nesse século com os trabalhos de Giuseppe Testa na Itália e o clinico francês Jean Nicholas Corvisart foi o primeiro a auto denominar-se especialista em coração , tendo sido médico de Napoleão Bonaparte. Nesse século ainda aparece a obstetrícia, a pediatria e a endocrinologia. Os estudos físicos sobre a luz e cor fazem surgir a oftalmologia ( em 1773 em Viena, Maria Tereza fundou a primeira escola de oftalmologia ). Outras especialidades foram criadas durante todo o século seguinte. No começo do nosso século após a primeira grande guerra, observou-se a necessidade da formação de profissionais dedicados à reconstrução corporal, à reparação humana e a cirurgia plástica, que vinha exercida desde os primórdios da humanidade, torna-se uma especialidade. O avanço tecnológico do século XX multiplica as especialidades surgindo a radiologia a medicina nuclear, a fisiatria e assim pôr diante. Assim a especialização nasceu da necessidade, qual um tributo ao progresso da ciência. O saudosismo do eclético médico de outrora , que adentrava os lares e cuja simples presença já era fator de cura , tem seu lugar, entretanto seria impossível hoje para ele, congregar todo o conhecimento. Todavia , sua característica mais marcante, mais saudosa e mais importante, o médico de hoje pode ainda cultivar: o carisma gerado pelo carinho , pela dedicação e pelo esmêro com que ele tratava seus pacientes e pela confiança neles inspirada.
Cada especialista, no consultório ou nos hospitais, ao exercer a arte de curar, no universo de sua especialidade, pode manter a mesma aura de nossos antepassados fazendo o papel de um “médico de família” adaptado a nossos dias, desde que saiba apoiar-se adequadamente no mais perfeito relacionamento médico-paciente, que a despeito de toda a evolução científica ao longo da história da humanidade, permanece alicerçado nos mesmos e imutáveis princípios primordiais.
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(Extraído do livro "História da Medicina - Curiosidades & Fatos", Lybio Junior, 2004 - Editora Astúrias