Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco

22/06/2011 23:03

 Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco



Marcos Roza de Sousa, Verônica Pimenta Velloso
e Francisco José Chagas Madureira*

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Denominações

Faculdade de Medicina do Recife (1920); Faculdades de Medicina, Farmácia e Odontologia do Recife (1927); Faculdade de Medicina da Universidade do Recife (1946); Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco (1965).



Histórico

Desde o século XVII, durante o período da ocupação holandesa, a então capitania de Pernambuco tornou-se o espaço onde se realizaram os primeiros trabalhos de pesquisa científica no Brasil, de autoria dos naturalistas holandeses Guilherme Piso e George Marcgraf, considerados "pais da nossa medicina, iniciadores da literatura médica e fundadores da história natural brasileira" (Rocha, 1960, p. 14). No entanto, a preocupação efetiva com o ensino médico em Pernambuco surgiu dois séculos mais tarde, concretizando-se apenas a partir do início do século XX. Em contrapartida, desde 1808 já haviam sido criadas a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro e a Escola de Cirurgia da Bahia.

Portanto, uma das primeiras iniciativas voltadas para o ensino médico em Pernambuco data do ano de 1817, por ocasião da Revolução Pernambucana, conspiração contra a Coroa portuguesa, influenciada pelos princípios liberais divulgados a partir da Revolução Francesa. Nesta época, foi criado o Hospital Militar em Recife para socorrer as vítimas dos conflitos. Um dos seus fundadores, o médico José Eustáquio Gomes, tendo estudado na Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro e na Universidade de Edimburgo (Escócia), criou naquele estabelecimento uma Escola de Cirurgia Prática, na qual eram ministradas noções de cirurgia através da prática no Hospital Militar, durante 18 ou 19 meses. Em 1819, o Governador e Capitão-general Luiz do Rego Barreto encaminhou ofício ao Ministro do Reino Tomás Antônio de Vilanova Portugal, solicitando recursos para a ampliação do curso de cirurgia para três anos, incluindo a subsistência de José Eustáquio Gomes, que ficaria responsável pelo ensino nos 1° e 3° anos, e do Físico-mor José Joaquim de Carvalho, responsável pelo ensino do 2° ano. Nesse ofício, Rego Barreto argumentava que a falta de instrução pública precisava ser solucionada, tendo em vista que nas capitanias de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte não havia médicos nem cirurgiões suficientes para atender a população, e a vinda de profissionais da Corte seria limitada e onerosa. Mesmo sem obter o apoio do Reino, a Escola de Cirurgia Prática funcionou até 1828, formando alguns práticos que prestaram exame perante uma comissão médica, nomeada pela Câmara. Em 1840, pela lei provincial nº 75 de 6 de maio, foi criada uma cadeira de arte obstétrica, privativa de mulheres e subordinada à diretoria do Liceu, tendo suas aulas ministradas no Hospital do Paraíso por Simplício Antônio Mavigner. Com o falecimento desse último em 1856, o curso de obstetrícia acabou também por ser extinto (Rocha, 1960).

Com a República, através de sua primeira Constituição (1891), ficou estabelecido o regime federativo, pelo qual o ensino superior no país deixou de ser privativo da União, tornando-se permitido aos Estados organizar os seus sistemas escolares completos. Neste contexto, a partir do início do século XX, vários cursos de ensino na área médica de nível superior, principalmente de farmácia e de odontologia, começaram a surgir nas capitais ou mesmo em cidades importantes dos principais Estados do país. A escassez de recursos para implantação de cursos de medicina explica, em parte, a escolha por esses cursos menores e, por isso, menos dispendiosos, para mais tarde serem criados os de medicina a eles vinculados.

Nesse quadro, em 14 de junho de 1895 foi apresentado à Câmara dos Deputados um projeto de autoria do Governador do Estado de Pernambuco, Alexandre José Barbosa Lima, que propunha a criação de uma faculdade de medicina na capital pernambucana. Embora tenha sido aprovado na Câmara, o projeto acabou sendo rejeitado pelo Senado (Rocha, 1960, Kelner, 1985). A iniciativa seguinte de implantação do ensino na área médica deu-se a partir da criação da Escola de Farmácia de Pernambuco, em 1902, inaugurada no ano seguinte. Esta foi adiante, embora seu funcionamento tenha sido interrompido por alguns anos.

No I Congresso Médico de Pernambuco, realizado em Recife, durante o mês de abril de 1909, novamente foi apresentada proposta de criação de uma escola livre de medicina pelo farmacêutico Durval de Brito. Ele não conseguiu a adesão dos demais participantes do Congresso, que alegaram insuficiência de recursos, citando como exemplo a Escola de Farmácia de Pernambuco, que permanecia fechada desde 1905. Em contrapartida, neste mesmo Congresso foram aprovadas as propostas de restabelecimento, pela Santa Casa da Misericórdia do Recife, da Escola de Enfermeiros mantida no Hospital Pedro II; e de remodelação do curso de obstetrícia, que vinha sendo ministrado de forma precária pelo diretor daquele mesmo hospital, Inácio Alcebíades Velloso. A nova Escola das Parteiras passou a ter um curso de três anos e o obstetra professor José Bandeira de Mello Filho encabeçou uma campanha para conseguir recursos para a construção de uma maternidade na cidade, objetivo que só foi alcançado em 1931, com a inauguração da Maternidade do Derby, contígua às novas instalações da Faculdade de Medicina do Recife.

Em 1910, se teve notícia de que a Escola de Enfermeiros começou a receber alunos de ambos sexos, tendo como fins:

"(...) criar um extenso e habilitado corpo de enfermeiros, com suficientes conhecimentos para proceder a curativos de pequena responsabilidade, nos doentes que lhe eram confiados, proporcionar-lhes, com acerto, os medicamentos receitados pelos facultativos e, conhecendo também noções elementares de higiene, úteis, sem dúvida, para quem ia ser um colaborador da primeira ordem do médico ao qual estivesse confiado um doente qualquer" (Freitas, 1944, p. 27).



Criação da Faculdade de Medicina do Recife

Em 1914, a idéia de criação da Faculdade de Medicina do Recife partiu de um grupo de profissionais da área médica que atuavam no Estado ou mesmo lecionavam nas instituições de ensino já criadas na capital pernambucana – Escola de Farmácia de Pernambuco e Escola de Odontologia de Pernambuco. Nesta época estava em vigor a Lei Orgânica do Ensino Superior e do Fundamental, conhecida como Reforma Rivadavia Corrêa. Aprovada pelos decretos nº 8.659 e nº 8.661 ambos de 05/04/1911, essa reforma concedia autonomia didática e administrativa às faculdades, desencadeando um processo de desoficialização do ensino. Neste momento, já haviam sido criadas faculdades de medicina nos principais Estados do país – Faculdade de Medicina e Farmácia de Porto Alegre (1898), Faculdade de Medicina de Belo Horizonte (1910), Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo (1912) e Curso de Medicina e Cirurgia da Universidade do Paraná (1912).

Em reunião da Congregação da Escola de Farmácia de Pernambuco no dia 5 de outubro de 1914, foi apresentada a proposta de formação de comissões para a elaboração dos estatutos e para angariar donativos, com fins de organizar a futura Faculdade de Medicina do Recife. Nesta ocasião, foi votada uma diretoria provisória composta por José Octávio de Freitas (diretor), Alfredo Cordeiro da Fonseca Medeiros (tesoureiro) e Thomé Isidoro Dias da Silva (secretário), tendo sido marcada a primeira reunião da Congregação da instituição para 5 de abril do ano seguinte.

No dia 6 de dezembro de 1914 seus estatutos foram apresentados. Eles estabeleciam que o primeiro provimento de cadeiras seria feito por nomeação da Congregação da Escola de Farmácia de Pernambuco. A instituição ficaria constituída por 28 lentes catedráticos, seis lentes substitutos, 13 preparadores, 13 assistentes, um diretor, um vice-diretor, um secretário, dois amanuenses, um porteiro, quatro contínuos, um bibliotecário, um sub-bibliotecário, dois serventes e um almoxarife; além de membros honorários que lhe prestassem serviços de relevância, e de um corpo discente. A seleção dos alunos candidatos ao curso seria realizada por um corpo complementar de professores efetivos de reconhecido saber, nomeados pela própria Congregação, sem interferência do governo. O exame de admissão incluiria as disciplinas de português, francês, inglês ou alemão, latim, aritmética, álgebra, geometria, trigonometria, história universal e corografia do Brasil, geografia, psicologia, física, química e história natural. No entanto, estas medidas não chegaram a ser postas em execução neste ano, já que a instituição só entrou em funcionamento a partir de julho de 1920.

No dia 4 de maio de 1920 foi realizada a segunda Congregação preparatória da Faculdade de Medicina do Recife, na qual foi aprovada a ata da sessão anterior de 5 de abril de 1915, decidindo-se pela reforma do corpo docente de acordo com a distribuição, classificação e nomenclatura estabelecidas pela nova legislação do ensino aprovada pelo decreto n.º 11.530 de 18/03/1915 (Reforma Maximiliano). As disciplinas ficaram assim distribuídas:

Física médica (Oscar Coutinho); química médica (Antônio Raposo Pinto); história natural médica (Alfredo Cordeiro da Fonseca Medeiros); anatomia descritiva (Luiz Gonzaga de Souza Góes); histologia (Antônio Monteiro de Moraes Nascimento); fisiologia (Gilberto Fraga Rocha); microbiologia (José Octávio de Freitas); terapêutica clínica e experimental e arte de formular (Alexandre dos Santos Selva Júnior); patologia geral (Mário de Oliveira Ramos); farmacologia (João Baptista Regueira Costa); anatomia médico-cirúrgica e operações, e higiene (Joaquim Costa Carvalho); medicina legal (Ascânio de Alcântara dos Guimarães Peixoto); clínica médica - 1ª cadeira (João Paulino Marques); clínica médica - 2ª cadeira (João Gomes de Amorim); clínica médica - 3ª cadeira (Edgar Altino Correia de Araújo); clínica médica - 4ª cadeira (Fernando Simões Barbosa); clínica cirúrgica - 1ª cadeira (Alfredo Arnóbio Marques); clínica cirúrgica - 2ª cadeira (Frederico Curio); clínica cirúrgica - 3ª cadeira (Paulo de Aguiar); clínica obstétrica (José Bandeira de Mello Filho); clínica ginecológica (Thomé Isidoro Dias da Silva); clínica oftalmológica (Isaac Salazar da Veiga Pessoa); clínica otorrinolaringológica (Artur de Sá Cavalcanti de Albuquerque); clínica pediátrica médica e higiene infantil (Augusto Lins e Silva); clínica pediátrica cirúrgica e ortopédica (José Ignácio Ávila); clínica dermatológica e sifilográfica (Francisco Clementino Carneiro da Cunha); clínica psiquiátrica (Ulisses Pernambucano de Melo Sobrinho); e clínica neurológica (Manoel Gouveia de Barros). Foram ainda nomeados como professores substitutos das seções de ginecologia e cirurgia, Arsênio Luiz Tavares da Silva e José de Arruda Souto Maior, respectivamente.

Além desta distribuição das disciplinas, formaram-se duas comissões integradas por professores das instituições de ensino médico existentes: uma para entrar em entendimento com o Governador do Estado, José Bezerra, sendo formada pelos professores Manoel Gouveia de Barros, Edgar Altino Correia de Araújo, Frederico Curio e José Octávio de Freitas; e outra para modificar os estatutos e o regimento interno, editados em 1915, constituída por Mário de Oliveira Ramos, Ulisses Pernambucano de Melo Sobrinho, Gilberto Fraga Rocha, Thomé Isidoro Dias da Silva, Ascânio de Alcântara dos Guimarães Peixoto e Arsênio Luiz Tavares da Silva.

A inauguração oficial da Faculdade de Medicina ocorreu no dia 16 de julho de 1920, quando foi proferida a aula inaugural pelo professor e diretor da instituição, José Octávio de Freitas. No seu discurso, Freitas enfatizou os objetivos da instituição e a situação financeira do profissional médico no país:

"(...) a Faculdade de Medicina do Recife não teve nem terá por principal escopo formar a granel e em correrias, médicos, farmacêuticos, cirurgiões-dentistas e parteiras. O que ela pretende, sobretudo, é ensinar teórica e praticamente a medicina e suas ciências e artes correlatas, procurando elevar cada vez mais o nível moral e intelectual dos nossos profissionais (...) A profissão médica foi, é e será sempre um sacerdócio e, por conseguinte, deve revestir-se, sem cessar, de uma incomparável soma de abnegação e de desprendimento (...) Os lucros oriundos da vossa profissão proporcionar-vos-ão tão somente o conforto e o bem estar encontrados comumente nas demais profissões liberais – advogados, engenheiros civis, agrônomos, mecânicos, funcionários públicos (...) Nada mais e nada menos que isto" (Apud Kelner, 1985, p.32).

A maioria dos 15 primeiros alunos selecionados pelos exames vestibulares eram já formados pelas escolas de farmácia, odontologia ou direito de Recife. Inicialmente, a instituição ficou instalada na Escola Manuel Borba, na rua Barão de São Borja.

Em 1925, ainda sob a gestão de José Octávio de Freitas, a Faculdade ganhou do Governo do Estado, ocupado por Sérgio Teixeira Lins de Barros Loreto, um terreno no bairro do Derby para a construção de sua sede própria. A planta do prédio foi de autoria do arquiteto Giacomo Palumbo, e seus construtores foram J. Brandão, Magalhães & Cia, tendo sido lançada a pedra fundamental do edifício em 20 de maio de 1925. Com empréstimos obtidos da Liga Pernambucana contra a Tuberculose e do Coronel Mendo Sampaio, o prédio foi inaugurado em 21 de abril de 1927. Seus laboratórios foram montados com materiais vindos da capital federal e importados da Europa.

Em dezembro de 1925, diplomaram-se os seis primeiros médicos pela instituição. O número de diplomados só aumentaria a partir de 1930, quando formaram-se 17 alunos.



Diretores

José Octávio de Freitas (1915-1920); Manoel Gouveia de Barros (1920-1921); José Octávio de Freitas (1921-1935).

Em 1915, quando a Congregação da Escola de Farmácia aprovou a proposta de criação da Faculdade de Medicina do Recife, ficou estabelecido que seu diretor provisório seria responsável pelas duas instituições – a de medicina e a de farmácia.



Estrutura e Funcionamento

Com a aprovação da reforma de ensino Rocha Vaz fundamentada pelo decreto nº 16.782-A de 13/01/1925, foi designada uma comissão na Faculdade de Medicina para emitir parecer a respeito dessa nova legislação, formada por José Octávio de Freitas, como relator, e os professores Edgar Altino Correia de Araújo, Frederico Curio, Fernando Simões Barbosa e Thomé Isidoro Dias da Silva. O parecer sugeriu, para obter o patrimônio exigido pela Reforma Rocha Vaz, que fosse feita uma solicitação ao governo estadual visando criar a Universidade do Estado, depois que fosse conseguida a oficialização da Faculdade de Medicina do Recife. E quanto à organização didática e administrativa observou que a reforma manteve a maioria das cadeiras, criando algumas e modificando a denominação de outras. Logo, a comissão defendeu a adoção do critério estabelecido por lei para a Faculdade de Medicina da Bahia. Este determinou que ao invés de quatro cadeiras de clínica médica, ficassem apenas duas no 5° ano, sendo transformadas as outras duas em clínica propedêutica médica e patologia médica no 3° ano. Em relação à clínica cirúrgica, a lei estabelecia que deviam ser três cadeiras e uma de patologia cirúrgica. A Faculdade de Medicina do Recife tinha, no entanto, quatro cadeiras de clínica cirúrgica. Diante disso, a comissão propôs a manutenção das quatro e a transformação da cadeira vias urinárias em patologia cirúrgica, a ser ministrada no 5° ano. O parecer da comissão propôs ainda a elaboração do regimento interno da Faculdade, efetivando sua junção administrativa com a então Escola de Farmácia e Odontologia. Submetido à votação, esse parecer foi aprovado pela Congregação em 4 de maio de 1925 (Freitas, 1944).

Em agosto deste mesmo ano foi nomeado para fiscalizar a Faculdade de Medicina do Recife o inspetor federal Álvaro Campos de Carvalho, professor de física da Faculdade de Medicina da Bahia. Embora desde dezembro de 1922 a Escola de Farmácia de Pernambuco já houvesse se juntado à Escola de Odontologia de Pernambuco, e o diretor da Faculdade de Medicina fosse o mesmo para as três escolas, somente em 1926 o Departamento Nacional de Ensino resolveu unificar a fiscalização da Faculdade de Medicina com a então Escola de Farmácia e Odontologia do Recife. Em função disso, o professor de obstetrícia Oscar Coutinho foi dispensado do cargo de inspetor da Escola de Farmácia e Odontologia do Recife, para o qual tinha sido nomeado em agosto de 1925.

Em 25 de julho de 1927, o Conselho Nacional de Ensino emitiu parecer a favor da equiparação da Faculdade de Medicina do Recife, sendo baixado ato pelo Ministro da Justiça e Negócios Interiores, Augusto Vianna do Castelo, em 27 de julho de 1927. Neste mesmo ano, o Conselho Nacional de Ensino aprovou também a anexação da Escola de Farmácia e Odontologia à Faculdade de Medicina do Recife e o desmembramento das duas escolas em faculdades, que passaram assim a denominar-se Faculdades de Medicina, Farmácia e Odontologia do Recife, de acordo com os artigos 109 e 119 do decreto nº 16.782-A de 13/01/1925. O diretor José Octávio de Freitas tornou-se então responsável oficialmente pela Faculdade de Medicina e suas faculdades anexas. Com essa anexação e desmembramento, a partir de 1928 as congregações das três faculdades deveriam se reunir, em separado, para atender as condições dos três cursos. Ainda em outubro de 1927, foi nomeado pelo Ministro da Justiça e Negócios Interiores como único Inspetor Federal do Departamento Nacional de Ensino junto às faculdades, Otávio Leite Moreira (Relatório, 1928).

Neste mesmo ano foram matriculados nas Faculdades de Medicina, Farmácia e Odontologia do Recife 239 alunos, sendo 155 no curso médico, 22 no curso farmacêutico, 55 no curso odontológico e sete no curso de enfermeiras especializadas. Esse último curso foi criado pela reforma de ensino Rocha Vaz em 1925. As aulas teóricas e práticas dos cursos médico, farmacêutico e odontológico, e do 1° ano do curso de enfermeiras foram ministradas nas novas instalações da instituição, localizada na esplanada do Derby. Assim, as aulas de anatomia, antes dadas no necrotério do Hospital Pedro II, passaram a ser ensinadas no pavilhão anatômico do novo prédio. No entanto, a falta de um hospital próprio manteve o funcionamento das aulas de clínica do curso médico em diversos hospitais, alguns pertencentes à Santa Casa da Misericórdia do Recife, como o Hospital Pedro II (clínicas médica, neuriátrica, obstétrica, otorrinolaringológica e oftalmológica) e o Hospital de Santo Amaro (pediatria médica e higiene infantil, clínica pediátrica cirúrgica e ortopédica, clínica ginecológica e clínica dermatológica e sifilográfica). Havia ainda o Hospital do Centenário (clínicas propedêutica e cirúrgica) e o Hospital de Doenças Nervosas e Mentais (clínica psiquiátrica). Além dessas disciplinas, as noções práticas de anatomia e de fisiologia do curso de enfermeiras especializadas foram ministradas no Hospital de Santo Amaro (Relatório,1928). Por outro lado, somente a partir de 1927 foram realizados concursos para a categoria livre-docência, criada desde 1915, pela Reforma Maximiliano. Os primeiros docentes aprovados foram Armando Meira Lins (cadeira de clínica pediátrica médica e higiene infantil), Romero da Gama Marques (cadeira de clínica propedêutica cirúrgica) e Hermes Caldas Bivar (cadeira de clínica obstétrica).

Somente a partir do ano letivo de 1928, foram previstas modificações nos currículos da Faculdade de Farmácia e da Faculdade de Odontologia, de acordo com a Reforma Rocha Vaz (Relatório,1928). No entanto, essas modificações não chegaram a ser postas em execução na data prevista, havendo um esvaziamento durante aquele ano, quando foram matriculados apenas três alunos no curso de farmácia, e outros 32 estudantes em odontologia. Em contrapartida, o número de alunos matriculados no curso médico aumentou para 232. Ainda em 1928 foram previstas obras para a ampliação do prédio das Faculdades de Medicina, Farmácia e Odontologia, visando dotar cada cadeira de um laboratório próprio. Havia ainda a previsão de inauguração do Hospital Manoel de Almeida para onde seria transferido o ensino das disciplinas de clínicas pediátrica, médica e pediátrica cirúrgica; e da Maternidade, onde passariam a ser ministradas as cadeiras de clínica obstétrica, ginecológica e obstetrícia (Relatório, 1929).

Com a Reforma Francisco Campos, regulamentada pelos decretos nº 19.851 e 19.852 de 11/04/1931, assinados pelo Chefe do Governo Provisório, Getúlio Vargas, e pelo Ministro da Educação e Saúde, Francisco Campos, foi proposta a transformação das faculdades de farmácia e de odontologia em escolas anexas, com a redução de seus currículos novamente para três anos e dois anos, respectivamente. Sendo assim, pelo decreto estadual n° 187 de 09/05/1933 o Governo do Estado de Pernambuco encampou a Faculdade de Medicina do Recife e suas escolas anexas de Farmácia e de Odontologia. Em seu artigo 1° estabelecia que "a Faculdade de Medicina do Recife reger-se-á rigorosamente pela legislação federal vigorante, na parte que lhe é aplicável e pelo decreto presente, tornando-se um instituto de ensino superior oficializado pelo Estado" (Apud Freitas, 1944, p.137). Contudo, esse decreto foi revogado pelo ato n° 405 de 17/12/1937, frustando a iniciativa da criação da Universidade do Estado pernambucano.



Criação da Universidade do Recife

Pela lei federal n° 9.388 de 20/06/1946, foi criada a Universidade do Recife, quando as escolas de Farmácia e de Odontologia continuaram incluídas na categoria de escolas anexas à então Faculdade de Medicina da Universidade do Recife. Pela lei n° 976 de 16/12/1949 a Universidade foi federalizada.

As escolas de Farmácia e Odontologia só voltaram a se constituir como unidades universitárias pela lei n° 3.401 de 12/06/1958, quando passaram a denominar-se Faculdade de Farmácia da Universidade do Recife e Faculdade de Odontologia da Universidade do Recife. Ainda no ano de 1958, a Universidade foi transferida do bairro do Derby para a Cidade Universitária. Com a criação da Universidade Federal de Pernambuco, em 1965, quando a Universidade do Recife passou a integrar o grupo de instituições federais do novo sistema de educação do país, as instituições aqui relacionadas receberam os nomes de Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Pernambuco e Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco.



Publicações Oficiais

No ano de 1934, começou a circular o periódico Anais da Faculdade de Medicina do Recife, publicação semestral constituída por artigos de autoria de professores e/ou médicos da Faculdade. Entre 1947 e 1953, sua publicação foi suspensa, voltando a circular em 1954 com o nome de Anais da Faculdade de Medicina da Universidade do Recife. A partir de 1966, passou a denominar-se Anais da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco.



FONTES

- Brasil. Decreto nº 11.530, de 18 de março de 1915. In: Collecção das Leis da República dos Estados Unidos do Brazil de 1915. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1917.

- Brasil. Decreto nº 16.782-A, de 13 de janeiro de 1925. In: Collecção das Leis da República dos Estados Unidos do Brasil de 1925, v.II. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1926.

- Faculdade de Medicina do Recife. Jornal de Medicina de Pernambuco, Recife, n.6, p. 139-143, jun.1927.

- Farias Sobrinho, José Ribeiro. 140 anos do ensino farmacêutico no Brasil: 1832-1972. João Pessoa: ESLF, 1973.

- Freitas, José Octávio de. Estatuto da Faculdade de Medicina de Pernambuco. Jornal de Medicina de Pernambuco, Recife, v.1, n.6, p. 34-40, mar./dez. 1914.

- ______________________. História da Faculdade de Medicina do Recife, 1895-1943. Recife: Imprensa Oficial, 1944.

- __________. Relatório da Faculdade de Medicina do Recife em 1926. Jornal de Medicina de Pernambuco, Recife, n.3, março de 1927, p. 65-91.

- Kelner, Salomão et alli. História da Faculdade de Medicina do Recife 1915-1985. Recife: Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciências da Saúde, 1985.

- Relatório da Faculdade de Medicina do Recife e Faculdades annexas de Pharmácia e de Odontologia em 1927. Jornal de Medicina de Pernambuco, Recife, ano XXIV, n.1, p.311-330, jan. 1928.

- Relatório da Faculdade de Medicina do Recife e Faculdades annexas de Pharmácia e de Odontologia em 1927. Jornal de Medicina de Pernambuco, Recife, ano XXIV, n.2, p.21-41, fev.1928.

- Relatório da Faculdade de Medicina e Faculdades annexas de Pharmácia e Odontologia. Jornal de Medicina de Pernambuco, Recife, ano XXV, n.1, p.1-16, jan.1929.

- Relatório da Faculdade de Medicina e Faculdades anexas de Pharmácia e Odontologia (cont.). Jornal de Medicina de Pernambuco, Recife, ano XXV, n.2, p.16-34, fev.1929.

- Rocha, Leduar de Assis. Subsídios para a história da Escola de Odontologia de Pernambuco: da fundação à formatura dos primeiros odontolandos. (Conferência proferida no salão nobre da Faculdade de Medicina da Universidade do Recife, em 27 de janeiro de 1958, por ocasião da homenagem prestada pelo Instituto Pernambucano de História da Medicina à antiga Escola de Odontologia de Pernambuco). Recife: Universidade do Recife, 1958.

- ______________________. História da medicina em Pernambuco (séculos XVI, XVII e XVIII). Recife: Arquivo Público Estadual, 1960.

- Távora, José Geraldo. José Octávio de Freitas: um homem à frente do seu tempo. Recife: Ed. José Octávio de Freitas, 1993.



*FICHA TÉCNICA

Pesquisa - Marcos Roza de Sousa, Verônica Pimenta Velloso
Redação - Verônica Pimenta Velloso
Revisão - Francisco José Chagas Madureira.

►Texto originalmente publicado no Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930) – Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – https://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br