Ainda Cesarianas: esclarecendo dúvidas
22/06/2011 23:21
Ainda Cesarianas: Esclarecendo Dúvidas
Mário V. Guimarães
Quando fazemos uma pesquisa, principalmente em caráter amadorístico como nós, ficamos perplexos com os desencontros e as divergências que detectamos nos dados levantados e referidos por autores diversos. Esta é a razão deste trabalho.
Dissemos em publicação anterior,por exemplo, que a primeira cesariana no Brasil, tinha sido feita aqui em Recife, pelo médico José Corrêa Picanço, Barão de Goyana e Cirurgião-mór do Reino, em 1817, em uma paciente negra e com êxito, o que chamou a atenção, já que os dados da época, essencialmente estrangeiros, registravam um alto índice de mortalidade materno-fetal, por tratar-se de um procedimento de alto risco e sobretudo de última instancia.Questiona-se apenas o ano da cirurgia;1817 ou 1823?
Para surpresa nossa, lendo a excelente obra de Fabiola Rhoden (Editora Fiocruz) “Uma ciência da diferença:sexo e gênero na medicina da mulher”, á pág,63, deparamos com uma referencia ao Visconde de Santa Isabel, Luiz da Cunha Feijó, médico da Casa
Imperial e diretor da já Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, que reproduzo textualmente: “OFICIALMENTE (o chamativo é nosso), é considerado o primeiro praticante de cesariana no país, nos idos de 1855”. Em outras fontes, inclusive nas hoje credenciadas, via Internet, que sempre reproduzem dados de origens idôneas, li referências já a um terceiro personagem, que teria sido o Dr. Francisco Furquim Werneck de Almeida, este porém nascido em 29/91846. Como vemos, baseado na sua idade, não poderia competir com Corrêa Picanço, que cesariou em 1817 no Hospital Militar de Recife,o que levou um seu biógrafo a dizer que ”a
paciente sobreviveu, sendo essa a primeira estupenda operação de tal natureza que se fizera nessa província”.
Convenhamos que o aparecimento desses novos protagonistas não constituem um desmentido ao pioneirismo de Corrêa Picanço, falecido em 1823, com vasta vivencia na Europa, mestre de Anatomia em Lisbôa, Coimbra e na Bahia. Podemos atribuir essas omissões ou desencontros, á falta de um memorial nas nossas faculdades e academias, que ainda hoje persiste, permitindo infelizmente essa inexatidões e o ofuscamento da verdade. Devemos levar em conta também o fato da ausência total de comunicações naquela época entre o norte e o sul(início do Sec.XIX), salvo dos mensageiros oficiais, para os quais uma cesariana não seria uma noticia dos seus interesse nem de suas funções.Quanto ao Visconde de Santa Isabel, estava em plena Corte e dirigia a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, como já vimos.
(Recife,23/8/07)