Adolpho Lutz
Dr. Adolpho Lutz
Os Lutz estão entre as famílias mais ilustres de Berna, na Suíça. Frederich Bernad Jacob Lutz, avô do Dr. Adolpho Lutz, foi médico cirurgião e trabalhou nas campanhas napoleônicas. Tornou-se médico-chefe das tropas em Berna, mantendo-se à frente do Serviço Medico do Exército. Em 1859 foi eleito membro do Conselho de Berna, condição de prestígio na época.
Os pais do Dr. Lutz, ambos suíços, Gustav Lutz e Matilde Oberteuffer, vieram para o Brasil, mais precisamente para o Rio de Janeiro, em 1849, provavelmente pouco antes de serem diagnosticados os primeiros casos da grave epidemia de Febre Amarela, e nesta cidade nasceram quase todos os dez filhos do casal, inclusive Adolpho Lutz, no dia 18 de dezembro de 1855.
Em 1857, os Lutz voltam para Suíça, decisão provavelmente tomada devido à insalubridade do Rio de janeiro, pois além da febre amarela, que retornava todos os verões enfrentou em 1855 uma grave epidemia de cólera. Voltaram para o Brasil em 1864, deixando na Suíça os três meninos maiores, para cursarem a escola, Adolpho Lutz, que tinha nesta época nove anos, entre eles.
Dr. Adolpho Lutz iniciou seus estudos superiores no ano de 1874, tendo obtido o diploma de médico em 1879 e, no ano seguinte, o de Doutor em Medicina. Freqüentou neste período outras universidades também: entre os anos de 1877 e 1878 esteve em Leipzing, em busca de ensino biológico; em 1878 estudou em Estrasburgo e, depois, fez estágio em ginecologia e obstetrícia em Praga. Aos 25 anos doutorou-se com tese sobre os efeitos terapêuticos do quebracho. Enquanto aguardava a defesa da tese trabalhou como assistente interno em um Hospital, publicou neste período, num periódico de Berna, seu primeiro artigo de medicina, sobre a bronquite fibrinosa.
Prosseguiu os estudos em outras cidades européias: 1880 em Viena, 1881 em Londres e em Paris, e neste mesmo ano voltou para Berna e, depois, para o Brasil.
Em 1882 tentou se estabelecer em Petrópolis, como clínico, mas acabou optando por Limeira, interior de São Paulo, para onde se mudara a irmã Helena. Conquistou uma reputação de ótimo diagnosticador e passou a ser chamado a lugares distantes e a ser consultado por pessoas de cidades vizinhas. Durante este período fez investigações importantes nas áreas de Biologia e Medicina.
Permaneceu em Limeira até março de 1885 quando vai para Hamburgo, para trabalhar em uma clínica fundada por Paul Gerson Unna, onde ficou por um ano, e sob orientação deste renomado dermatologista fez estudos sobre a morfologia de germes relacionados com doenças dermatológicas, principalmente a lepra.
Regressou ao Brasil em 1886, e retomou a clínica desta vez na Capital paulista e, em 1887, dando continuidade aos seus estudos sobre a Lepra, passou uma curta temporada no Hospital de Lázaros no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Neste mesmo ano foi indicado por Unna para ir a Ilha de Molokai, ao leprosário recém instalado, e aplicar sua terapêutica. Nesta ilha conheceu Amy Marie Gertrude Fowler, enfermeira inglesa voluntária, aproximada principalmente pelo destemor com que entravam em contato com os leprosos, casou-se em 11 de abril de 1891 em uma cerimônia simples, realizada pelo pastor da Igreja da União Central de Honolulu.
Em janeiro de 1893, Dr. Adolpho Lutz, voltou ao Brasil, junto com Amy. Decidiram instalar-se em São Paulo, onde nasceriam os dois filhos do casal: Bertha Maria Júlia, em 2 de agosto de 1894; e Gualter Adolpho, em 3 de maio de 1903.
Esta vinda para São Paulo deu inicio a outra fase na trajetória de Lutz, “talvez a mais dramática, de maior sofrimento, de maior projeção e de maior importância para o Brasil”.
Em 18 de março de 1893 foi nomeado subdiretor do Instituto Bacteriológico de São Paulo, atualmente denominado Instituto Adolfo Lutz.
No Instituto Bacteriológico, a pequena equipe (diretor, subdiretor, três ajudantes e dois serventes) teria que dar conta das várias tarefas: “estudo da microscopia e bacteriologia em geral especialmente, com relação à etiologia das epidemias, endemias e epizootias mais comuns no estado; preparo e condicionamento dos produtos necessários à vacinação preventiva e aplicações terapêuticas que se tornarem indicadas; exames microscópicos necessários à elucidação do diagnóstico clínico“.
Na verdade, a alma, o cérebro e a força de trabalho principal do Instituto Bacteriológico de São Paulo foram Adolpho Lutz. Nomeado diretor interino em outubro de 1893, e efetivado no cargo somente em 18 de setembro de 1895, exerceu este cargo por 15 anos.
Os surtos de cólera, febre tifóide, disenterias, febre amarela e outras doenças deste período revelam a importância que a bacteriologia adquiria na saúde pública. Os diagnósticos de Adolpho Lutz e de alguns jovens profissionais que começavam a se destacar estavam calçados em provas laboratoriais inacessíveis à maioria dos médicos. Estes anos estão cheios de conflitos envolvendo a identificação e em conseqüência a profilaxia e tratamento das doenças nos núcleos urbanos e zona rural.
Lutz era o mais qualificado entre os bacteriologistas brasileiros, com maior experiência, trabalhos publicados e relações com a comunidade científica internacional. Entre os episódios vivenciados por ele,dois foram particularmente rumorosos: o da cólera e o da febre tifóide.
Em 1908, transferiu-se para o instituto chefiado pelo Dr. Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, onde permaneceu e continuou sua pesquisa até 1940, quando faleceu no dia 6 de outubro deste mesmo ano.
*Tal artigo foi gentilmente cedido pelo Instituto Adolfo Lutz