A Neurologia na Arte

22/06/2011 23:32

A NEUROLOGIA NA ARTE

 
Sebastião Gusmão
Eric Morato
Elizabeth Regina Comini Frota
 
 
 
Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital da Clínicas - UFMG
Serviço de Neurocirurgia do Hospital Luxemburgo – Belo Horizonte
Endereço para correspondência:
Sebastião Gusmão
R. Padre Rolim, 921/21
30130090 Belo Horizonte
e-mail: gusmao@medicina.ufmg.br


 
A arte e a medicina apresentam caminhos paralelos ao longo da História. Assim, o século de Péricles (490 – 429 a.C.) deu origem a Fídias (490 - 431), escultor e artista culminante do classicismo grego, e a Hipócrates (c. 460 – 375 a.C), que tirou a medicina dos templos ao substituir as explicações sobrenaturais da doença por mecanismos naturais. Da Antiguidade Clássica ao século XV, a arte não representou o mundo real nem as emoções humanas; este período caracteriza-se também pela estagnação da medicina. O Renascimento dos séculos 14 e15 fez renascer tanto a arte quanto a medicina. A moderna medicina nasce em 1534, com a publicação do Fabrica de Vesalius (1514 - 1564). Mas o mais importante desta monumental obra não é o texto de Vesalius, mas a ilustração realizada no ateliê de Ticiano, principalmente por seu discípulo Calcar. Portanto a moderna medicina foi em parte gerada no ateliê de um pintor renascentista.
 
O corpo humano é um dos temas mais fundamentais de todas as formas de artes. Em ocasiões, fatos médicos foram inevitavelmente representados na linguagem artística. A doença, sempre presente, é freqüentemente o deliberado objeto da arte. Malformações óbvias podem aparecer na obra de arte, mas também sutis expressões da doença podem ser identificadas nos trabalhos clássicos.
 
As manifestações superficiais das lesões do sistema nervoso, especialmente as paralisias, atrofias e alterações de postura podem ser identificadas nas pinturas e esculturas. A seguir expõe-se o que encontramos de neurologia na arte, ou mais precisamente na pintura e escultura.
 
As obras de arte aqui comentadas estão disponíveis em forma de apresentação em Power Point no site www.neurominas.com.br e ordenadas segundo a aparição no texto.
 
 
ARTE MOCHICA
 
Nas culturas pré-históricas e primitivas, pinturas e estátuas são usadas para realizar trabalhos de magia, para proteger contra outros poderes que, para os membros dessas culturas, são tão reais quanto as forças da natureza.
 
A civilização, desenvolvida no vale do rio Moche, costa norte do Peru, atingiu seu apogeu no início da era cristã e é predecessora da cultura incaica e materialização clássica da antiga cultura peruana. Deixou-nos, através da arte de seus oleiros, imagens do cotidiano de inigualável colorido e realismo. Além da história de suas vidas, deixaram uma verdadeira crônica em imagens de cerâmica de suas doenças e procedimentos médicos. Duas destas peças mostram paralisia facial periférica (do lado direito), descrita por Charles Bell (1774 - 1842), em 1829. Lastres encontrou em um exemplar da cerâmica mochica deformação do pé direito em varus-equino. Acredita tratar-se de poliomielite anterior ou paralisia espástica por síndrome piramidal (Lastres, 1935).

 

ANTIGUIDADE ARCAICA

Na antiguidade arcaica (Egito e Mesopotâmia), o homem tinha uma concepção mítica do universo, sendo as doenças explicadas por forças sobrenaturais, resultando de possessão por espíritos. Entretanto, ao lado da medicina realizada pelos sacerdotes, desenvolveu-se tanto na Mesopotâmia como no Egito uma medicina prática com bases empíricas. Da mesma forma, ao lado da escultura religiosa, os artistas arcaicos realizaram obras de intenso realismo. Duas destas obras evidenciam manifestações de lesão do sistema nervoso: Estela funerária do sacerdote  Ruma e  Leoa morrendo.
 
A Estela funerária do sacerdote Ruma, da décima-nona dinastia (1580-1350) é a primeira representação de uma doença neurológica. Mostra a atrofia e encurtamento da perna direita, provavelmente resultante de poliomielite. O sacerdote Ruma, acompanhado de sua esposa e irmã é mostrado aproximando-se de uma pequena mesa portando oferendas à deusa Istar. Sua perna é encurtada e atrofiada e apresenta pé eqüino. Durante a cerimônia, ele porta a bengala comprimida pelo braço contra o corpo.
 
 Na obra de arte assíria em relevo de alabastro A leoa morrendo, originária do Palácio de Assurbanipal II (século VII a.C) e atualmente no British Nuseum, a leoa, ferida na medula espinhal por uma flecha, é representada furiosa e arrastando as patas traseiras paralisadas. A escultura apresenta um senso de drama e grande poder de observação e perícia na execução. A caça ao leão era esporte habitual dos soberanos assírios, sendo freqüentemente representada em esculturas.
 
ANTIGUIDADE CLÁSSICA E IDADE MÉDIA
A leveza, a harmonia e simplicidade marcam a arte grega. As pessoas são esculpidas e pintadas como seres humanos de verdade, mas, ao mesmo tempo, como seres de um mundo diferente e melhor. Não se pintava ou esculpia um ser humano em sua individualidade, mas um homem ou uma mulher idealizados. A arte grega perseguia o ideal de beleza, realizando representações idealizadas do homem, sempre belo e jovem. Esta concepção persistiu no Império Romano. Assim, o homem em suas condições reais e as observações do homem doente da escola hipocrática não têm lugar na arte clássica.
 
Na Idade Média (séculos V a XV) a pintura não evocou o mundo real ou as emoções humanas, limitando-se à reprodução de ícones estereotipados. O artista medieval trabalhava valendo-se do exemplo, isto é, a partir da fórmula e do esquema vigentes, não atingindo a vida diretamente nem se inspirando nela. Durante este período, os homens preocuparam-se essencialmente com os problemas espirituais e teológicos, desinteressando-se da arte e da ciência até o ponto de perder a própria noção de humano. A escolástica foi o resultado natural desta perspectiva contraria à experiência, na qual os dados observados deviam ser coerentes com as verdades previamente assumidas. A medicina se contentou em reproduzir os conceitos de Galeno. O homem não era o objetivo da arte, e muito menos o homem doente.
 
RENASCIMENTO
O Renascimento significou uma revolução na Europa e no mundo ao fim da Idade Média e advento dos Tempos Modernos. As novas concepções do mundo e do universo contrapunham os avanços científicos às crenças de parte da Igreja, agarrada ainda ao mundo medieval. A sociedade do Renascimento estava mergulhada num turbilhão de novas concepções, motivadas em parte pela substituição do conhecimento dogmático pelo científico. Os homens da modernidade trilhavam o caminho do racionalismo, que ganharia força nos séculos seguintes. Tudo tinha que ser explicado a partir da razão, e não da fé. Era preciso descobrir os mecanismos que mantinham os homens vivos, e para isso era preciso estudar profundamente a anatomia humana. O foco de interesse deslocou-se do absoluto para a realidade do próprio homem e surge um novo humanismo em contraposição ao misticismo medieval. O mundo natural torna-se a mais alta autoridade.
 
Na Renascença volta a capacidade de observação e o prazer de retratar o belo. A arte religiosa afasta-se da representação clara da história sagrada para a representação da natureza da maneira mais fiel possível. O objetivo era a conquista da realidade. A arte passou a ser usada não só para contar a história sagrada de uma forma comovente, mas para refletir também um fragmento do mundo real. Este realismo da Renascença assinalou a ruptura com a Idade Média e explica a presença de representações médicas na obra dos grandes artistas deste período.
 
Um caso particular de tal representação é o sinal de Babinski (1857 – 1932). Este neurologista descreveu, em 1896, o reflexo cutâneo-plantar em extensão (sinal de Babinski), que indica, no indivíduo acima de dois anos de idade, lesão do trato corticospinal ou piramidal. Caracteriza-se por extensão lenta do hálux, enquanto no reflexo cutâneo-plantar normal ocorre flexão de todos os pododáctilos. Na criança menor de dois anos de idade a extensão do hálux está presente pelo fato de que nessa idade ainda não ocorreu a mielinização das vias piramidais.
 
Conee e Khoshbin (1978), em 1978, chamaram a atenção para a representação do sinal de Babinski na obra de Boticelli. Esta representação é evidenciada na obra de vários outros artistas do renascimento. Estes pintores renascentistas procuravam retratar com fidelidade a natureza e usavam modelos para figuras humanas para observar as verdadeiras proporções do corpo, o que explica a freqüente presença do sinal de Babinski nas representações de Cristo como criança. Sandro Botticelli (c 1445-1510), um dos maiores pintores do renascimento florentino, representou o reflexo de Babinski em sua Madona e a criança com os anjos, de 1468. Neste quadro, a Madonna parece eliciar o reflexo acariciando com o dedo a planta do pé da criança.
 
No quadro de Gentile da Fabriano (1370 – 1427), A adoração dos magos, de 1423, observa-se o sinal de Babinski na criança pela estimulação da planta do pé pelo nariz e barba do mago. Na obra de Rogier van der Weyden (1399 – 1464, pintor holandês), Madona e a Criança, de 1454, a criança parece estimular o próprio sinal de Babinski. Na The Small Cowper Madonna (1505), de Raffaello (1483 – 1520), a Madonna estimula a planta do pé da criança com um dedo, provocando o sinal de Babinski.  Na Madona e a criança com Sâo Gerônimo e Maria Madalena (1523), de Correggio (1494 – 1534), Maria Madalena elicia o reflexo de Babinski acariciando o pé da criança com o dedo. Em O casamento místico de Santa Catarina (1610), de Rubens (1577 – 1640), a figura maior do barroco do norte da Europa, a criança parece estimular seu próprio sinal de Babinski com um pé tocando a planta do outro. Em a A virgem e a criança, de Boltraffio (1467 – 1516) observa-se a resposta normal de uma criança ao afagar-se a planta de seu pé. Em A virgem e a criança entre São João Batista e Santa Catarina (1500), de Perugin (1450 – 1523), o sinal de Babinski parece ocorrer espontaneamente. Na Madona del Garofano de Leonardo da Vinci  (1452 - 1519), ocorre o sinal de Babinski no pé direito, cuja região plantar toca a almofada (Massey, Sanders, 1989).
 
Em São Pedro curando a mão paralisada, de Bernardo Strozzi (1581 – 1644), oberva-se mão caída, provavelmente por paralisia radial.
 
Trinta e um casos de deformações e distúrbios da marcha, muitos provavelmente secundários a doenças neurológicas, são mostrados na Procession of Cripples (1500) de Bosch (1450 – 1516) (Dequeker, Vanopdenbosch, 2001).
 
Embora Bruegel (1525 – 1569), o maior pintor flamengo do século 16, tenha vivido em pleno florescimento renascentista das cidades flamengas, o universo que elegeu para seus quadros foi o das pequenas aldeias rurais e sua cultura marcadamente medieval. Ele pinta homens e mulheres comuns e narra episódios e situações da vida cotidiana, com uma preocupação pela minúcia. Na A adoração dos Reis Magos (1564), um dos reis magos (Melchior), portando incenso, apresenta paralisia facial bilateral, ptose parcial e calvice frontal prematura, configurando o quadro de distrofia miotônica (Smith, 1999).
Em 1910 Meige (1866 – 1940), discípulo de Charcot, descreveu a distonia oromandibular e blefaroespasmo. A pintura O bocejador de Bruegel mostra face de um homem com as pálpebras fortemente cerrada e a boca amplamente aberta. Os historiadores da arte afirmam que esta pintura retrata um grande bocejo. Marsden (1976) creditou a R.E. Kelly a observação da semelhança desta pintura com a síndrome do distonia oromandibular e blefaroespasmo e sugeriu o epônimo de síndrome de Brueghel.
 
Em A peregrinação dos epilépticos à igreja de São João em Molenbeck (1569), do mesmo Bruegel, está representada a crença em curas ritualísticas, onde as vítimas da “doença das quedas” seriam poupadas de suas crises pelo período de um ano se conseguissem atravessar determinada ponte (Park, Park, 1990).
 
Na obra de Rogier van der Weyden (1399 – 1464, A descida da Cruz, de 1435, é mostrada a síncope (perda temporária da consciência e da postura por diminuição da perfusão cerebral) de Maria, mãe de Jesus. Ela encontra-se caída ao solo e com a face pálida.
 
Em uma peça do século 15, na Igreja de St. Thomas, em Strasbourg, é retratada a paralisia facial ou paralisia de Bell. 
Em A conversão de São Paulo , de Michelangelo (1475–1564) e A conversão de São Paulo, de Caravaggio (1573-1610), São Paulo é retratado no chão, ofuscado pela visão de Jesus, na rota de Damasco. Esta cena traduz o descrito em Atos 22,6: “De repente, uma grande luz que vinha do céu brilhou em volta de mim. Então caí no chão e ouvi uma voz que dizia: Saulo, Saulo! Por que você me persegue?” A experiência de Paulo foi atribuída a uma crise do lobo temporal com aura emocional que talvez tenha evoluído para generalização secundária, que foi assustadora e dramática, seguida de cegueira cortical pós-ictal (Landsborrough, 1987).
 
Em A transfiguração (1517), Rafael (1483–1520) representa concomitantemente dois episódios do Evangelho segundo São Mateus: a transfiguração de Jesus e a súplica de um homem para que seu filho seja curado da epilepsia. A transfiguração é apresentada no alto. Abaixo e a direita, um pai segura o filho que está apresentando crise de epilepsia, narrada no evangelho de Marcos (9:20): Ele caiu no chão e rolava, com a boca espumando. Esta crise de epilepsia chamou a atenção de célebres neurologistas, como Charles Bell e Charcot.
 
A ciência e a arte estiveram mais unidas no Renascimento do que em qualquer outro período da história. A Renascença viu surgir, no campo da arte, um novo dogma da teoria estética, segundo o qual uma obra de arte é uma representação direta e fiel dos fenômenos naturais. Essa concepção exigia que o artista se familiarizasse com a estrutura e as propriedades físicas dos fenômenos naturais a fim de retrata-los objetivamente. A arte torna-se científica.  Leonardo da Vinci (1452 – 1519) foi o primeiro artista que praticou a anatomia além do ponto de vista puramente pictórico. Explorou o corpo humano, dissecando mais de trinta cadáveres. Experimentou técnicas para modelar cavidades de órgãos, que mais tarde seriam adotadas, e realizou dissecações representadas em mais de 750 desenhos. Destes, vários referem-se à estrutura do sistema nervoso. Sua maior contribuição para a anatomia do sistema nervoso foi a injeção de cera na cavidade ventricular de um boi, que constitui a primeira injeção anatômica. Tal procedimento lhe permitiu expor, em aproximadamente 1504, a anatomia dos ventrículos cerebrais com a forma que hoje conhecemos.
 
Michelangelo Buonarotti (1475 – 1564) passou pelo menos vinte anos adquirindo conhecimentos anatômicos por meio de dissecações que praticava principalmente no convento de Santo Espírito de Florença. A maior parte de seus desenhos anatômicos foi destruída ou queimada por ele mesmo. Meshberger (1990) apresentou interpretação, baseada na neuroanatomia, para A criação de Adão, de Michelangelo, a cena mais famosa e mais divulgada da Capela Sistina, na qual o Criador estende o dedo indicador, que quase toca a mão esquerda de Adão. Comparou a imagem em que o Criador está dentro de um manto esvoaçante e cercado de querubins com o corte sagital do crânio (e o cérebro nele contido) e mostrou a semelhança impressionante entre a representação pictórica e a peça anatômica. O sulco do giro do cíngulo corresponde ao contorno que se inicia no quadril do anjo em frente ao Criador e continua ao longo dos ombros de Deus. A echarpe verde pendente corresponde à artéria vertebral em seu curso ascendente, curvando-se em torno do processo articular e fazendo contato com a superfície inferior da ponte, representada pelas costas do anjo que se estende lateralmente abaixo da figura do Criador. O quadril e a perna esquerda do anjo correspondem à medula espinhal. A haste e a hipófise são representadas pela perna e pelo pé do anjo na base da figura. A perna direita desse mesmo anjo está flexionada no quadril e no joelho. A coxa representa o nervo óptico; o joelho, o quiasma óptico transeccionado; e a perna, o trato óptico. Meshberger conclui o estudo afirmando que a intenção de Michelangelo foi de representar Deus fornecendo a Adão o intelecto.
 
Com exceção de Leonardo, cujos desenhos não estiveram ao alcance dos anatomistas do século 16, o artista do Renascimento era anatomista somente de modo secundário. Ainda que tenham feito importantes contribuições na representação realística da forma humana (como o uso da perspectiva e do sombreado para sugerir profundidade e tridimensionalidade), os verdadeiros avanços científicos exigiam a colaboração de anatomistas profissionais e de artistas. Tal colaboração ocorreu na associação de Vesalius (1514 - 1564) com a escola de Ticiano (1485 – 1576).
 
Na edição, em 1543, de De humani corporis fabrica, tratado do belga Andréas Vesalius, ocorre a perfeita combinação de forma e ilustração, tornando-o a maior contribuição isolada às ciências médicas. As ilustrações, sendo várias referentes ao sistema nervoso, foram produzidas no ateliê de Ticiano. Jan van Kalkar, Domenico Campagnola e outros artistas participaram do trabalho sob a supervisão do mestre. Com esta obra, Vesalius contestou a anatomia de Galeno, baseada em dissecações de macacos, e inaugurou a moderna medicina.
 
SÉCULO XVII
O século XVII eleva ainda mais o conhecimento adquirido nos dois séculos do Renascimento e marca o nascimento da ciência moderna. Na medicina ocorreu significativo avanço na anatomia e fisiologia, sendo o mais importante a descoberta da circulação do sangue por Harvey.
 
Em oposição aos renascentistas, os artistas do século XVII inovam em audacioso descaso por formas e cores naturais, e procuram expressar uma visão dramática e emocional. Ocorre uma ênfase sobre a luz e a cor; desprezo pelo equilíbrio simples e preferência por composições mais complicadas. É o barroco (início do século XVII a meados do século XVIII). Parecem não dar a menor importância à beleza, e nem mesmo evitar uma fealdade. Atribuíam á verdade e à franqueza um valor muito mais alto do que à harmonia e á beleza. Tal concepção propicia o aparecimento de lesões e doenças nas obras de arte.
A anatomia e a função do sistema nervoso tiveram grande avanço com os trabalhos de Thomas Willis (1621-1675). Em sua obra Cerebri Anatome (1664) ele coloca as bases da moderna neurologia. Nesta obra é pela primeira vez cunhada a expressão Neurologia. Descartes (1596 - 1650) imaginara o corpo humano como a união de uma alma racional, responsável pelo pensamento, e uma máquina de barro. Willis vai além e fundamenta uma explicação mecânica do raciocínio com uma anatomia rigorosa do cérebro e coloca neste o pensamento.
 
A Cerebri Anatome foi ilustrada por Christopher Wren (1632 – 1723), arquiteto que elaborou o projeto de reedificação de Londres depois do incêndio em 1666 e cuja obra prima é a catedral de São Paulo em Londres. A primeira figura do livro mostra o grupo de vasos sanguíneos na base do crânio conhecido como polígono de Willis.
 
Na obra Credulidade, Supertição e Fanatismo (1762), de Hogarth (1697 - 1764), pintada um século após a publicação de Cerebri Anatome, evidencia a difusão do pensamento de Willis sobre o cérebro como substrato do pensamento e das emoções e sua alteração como responsável pela loucura. O pintor incluiu o cérebro em seu ataque alegórico à Igreja metodista. Um ministro metodista prega para o povo. De uma de suas mãos estendidas pende uma bruxa amarrada a um pau e, de outra, um pequeno demônio. A congregação, um mar de demônios, vibra com um entusiasmo que lembra a loucura. Um ministro se prepara para o bote diante de uma rapariga, enfiando uma imagem pelo seu decote. Um judeu, durante o culto, mata piolhos entre os dedos, enquanto uma faca repousa sobre a sua Bíblia aberta. Na parte frontal da igreja, uma mulher dá à luz coelhos e um menino vomita pregos. Para enfatizar o pensamento do Iluminismo de que tudo isso são emblemas da mente fanática e irracional, Hogarth colocou um cérebro no canto inferior direito. É idêntico à ilustração feita por Wren um século antes. Junto ao cérebro encontra-se um termômetro, outro ícone da revolução científica, representando a avaliação objetiva triunfando sobre o juízo subjetivo. Ele não mede a temperatura, mas níveis de loucura.
 
O quadro de Rubens (1577 – 1640, pintor do barroco flamengo) Os milagres de St. Inácio de Loiola, de 1618, mostra um homem aparentemente apresentando crise convulsiva (Smith, 2005).
 
A Aula de anatomia do Dr. Tulp (1632), de Rembrandt (1606 – 1669), é o mais célebre de todos os quadros relacionados à medicina. A dissecação evidencia os músculos flexores dos dedos, no antebraço. Ao pé do cadáver encontra-se o tratado de anatomia de Vesalius. Outro quadro semelhante do mesmo autor e menos conhecido, a Aula de anatomia do Dr. Joan Deyman (1656) mostra uma das primeiras demonstrações de dissecção do cérebro. Deyman, sucessor do Dr. Tulp, também contratou Rembrandt para pintar sua lição de anatomia. Seu rosto não ficou para a posteridade por meio deste quadro porque um incêndio, em 1723, danificou a obra. Para recuperar o quadro, dando-lhe estética, os especialistas em restauração foram obrigados a recortar a cabeça queimada do anatomista. Na tela vê-se a calota craniana retirada e na mão de um assistente, com exposição da convexidade dos hemisférios cerebrais.
 
A descida da cruz (1634), de Rembrandt, mostra a síncope de Maria, que na periferia direita do quadro é amparada.
 
Velazquez (1599-1660), o maior pintor do barroco espanhol, fixou, em telas imortais, os anões e bufões de Felipe IV, com todas suas deformidades. Na pintura As meninas ou A família de Felipe IV, vê-se à direita uma anã disforme, com grande cabeça, lembrando a hidrocefalia. Em Calabazas, mostra um jovem com pé caído bilateral e paralisia do músculo reto lateral esquerdo. Várias etiologias para este quadro são possíveis, entre as quais a atrofia muscular peroneal.
 
O quadro Pied-Bot ou nino cojo, de José de Ribera (1591 – 1652), considerado o maior pintor do barroco espanhol, depois de Velazquez, mostra um jovem com esta enfermidade, tendo o pé direito deformado e que toca o solo apenas pelos dedos; é portanto um pied-bot eqüino. A mão direita, que porta um chapéu, apresenta uma deformidade análoga àquela do pé, ainda que os dedos, colocados em perspectiva, desaparecem sob o bordo do chapéu. Assim, o conjunto sugere hemiplegia infantil direita, resultado de uma atrofia cerebral do hemisfério esquerdo. A expressão facial completa o quadro, revelando um desenvolvimento incompleto das faculdades intelectuais que acompanha ordinariamente esta afecção. O cartaz na não esquerda, onde se lê: Da mihi elimosinam propter amorem Dei, sugere que ele não pode falar, apresentando afasia por lesão do hemisfério cerebral esquerdo.
 
O quadro Mulher barbada, foi pintado por Ribera, em 1631, a pedido do duque de Alcalá, vice-rei de Nápoles. Ele representa Magdalena Ventura, uma mulher originária da região dos Abruzzes que, com a idade de 37 anos e após ter tido três filhos, foi acometida de virilismo. Em 1631, se instala em Nápoles, e com a idade de 52 anos, dá a luz uma criança. Tomando conhecimento deste fato, a apresenta a Ribera para que este a pinte. Ao lado encontra-se seu esposo. Certos tumores do ovário ou das glândulas suprarenais podem determinar hisurtismo. O diagnóstico mais provável é de síndrome adrenogenital por tumor benigno das glândulas suprarenais ou adenoma da hipófise.
 
O trauma é a principal causa de lesão do sistema nervoso, sendo de se esperar sua representação na arte. A passagem bíblica que relata o ferimento do crânio de Golias por uma pedra lançada por Davi, seguido da decapitação do gigante, é representada por Caravaggio (1573 – 1610) e, poucas décadas depois, por Jacob van Oost (1600 – 1671), nas telas denominadas Davi com a cabeça de Golias. Bernardo Cavallini (1616-1656), na obra Expulsão de Iliodor do templo representa trauma craniano pela pata de um cavalo.
 
SÉCULO XVIII
 
O trabalho científico e as doutrinas elaborados no século anterior, foram desenvolvidas e organizadas no século 18. Foi o século das luzes e das teorias formais e sistemas na medicina. O rococó foi o estilo derivado do barroco que dominou a maior parte do século 18. Apresenta as características decorativas do barroco, mas ao invés do vigor e grandeza do barroco, a pintura rococó transmitia sensação de tranqüilidade. No final do século 18, este estilo foi substituído pelo neoclassicismo, com especial destaque na França. Os líderes da Revolução Francesa queriam fazer a França seguir o modelo da Roma clássica. Os artistas neoclássicos pintavam inspiradoras cenas da história romana a fim de despertar o patriotismo dos franceses.
 
A representação de síncope em quadros históricos é comum nos pintores do neoclassicismo do século 18. No quadro Virgilio lendo a Eneida para Augusto e Otávia, 1787, de Taillasson (1785 – 1809), um representante do neoclassicismo francês, enquanto Virgílio lia a Eneida para o imperador e sua irmã, Octávia aparentemente ficou emocionada com a referência ao seu filho morto, Marcus claudius Marcellus, e sofre uma síncope. No An election entertainment (1754), de Hogarth(1697 - 1764) observa-se, à direita da mesa redonda, o prefeito desmaiado.  No A morte do Conde de Chatham, pintado em 1779 pelo neoclássico americano Joh Copley (1738 - 1815), mostra William Pitt, Conde de Chatham, pálido, com os olhos abertos e elevados. Apesar do título da pintura, o Conde não morreu imediatamente, quando desmaiou na House of Lords, mas um mês após. A pintura Más notícias (1804), de Marguerite Gerard (1761 - 1837), mostra a síncope de uma mãe após receber a notícia da morte do filho (Smith, 2005).
 
A gravura Agitations des convulsionaires, do pintor francês Bernard Picart  (1673 – 1733), mostra vários casos de convulsões. Epidemias de convulsão, uma forma de histeria coletiva, era comum nos séculos XVII e XVIII.
 
Na gravura The Polling, do pintor inglês Hogarth (1697 - 1764), vê-se uma mulher com distúrbio do movimento, provavelmente coréia hereditária.
 
SÉCULO XIX
 
O romantismo, surgido no início do século 19, foi uma reação à ênfase neoclássica em quadros equilibrados e bem ordenados. A pintura romântica substituiu as cores límpidas e brilhantes e as composições harmoniosas do neoclassicismo por cenas de atividade violenta, dramatizada por pinceladas vigorosas, cores ricas e sombras profundas. Em meados do século 19, ocorre o declínio do neoclassicismo e do romantismo e o realismo surge na arte francesa. Na segunda metade deste século surge o impressionismo.
 
Goya (1746 – 1828) tornou-se um pioneiro tanto do romantismo quanto do realismo. Rejeitou as restrições impostas pelo neoclassicismo à escolha dos temas. Pintava reis, plebeus, loucos e soldados. Retratava seus temas como os via, combinando detalhes realistas com sua própria interpretação do caráter das pessoas retratadas. Isso possibilitou ver déficit motor em dois de seus quadros. Goya pintou em 1797 seu amigo e pintor, Don Andres del Péral, do lado direito, minimizando o impacto desfigurante da paresia facial que afeta predominantemente a face inferior, sugerindo lesão do neurônio motor superior por acidente vascular cerebral (Smith, 1999). Em 1792, quando estava então com 46 anos, o próprio Goya ficou subitamente febril e hemiplégico à direita. Novo acidente vascular cerebral o atingiu aos 73 anos (1819), agravando sua hemiplegia. Pintou em 1820 Auto-retrato com o Dr. Arrieta  em agradecimento ao médico que o tratou. Observa-se a movimentação da mão esquerda e a não direita caída e flácida (Cawthorne, 1962).
 
Na segunda metade do século 19 eclodiu a moderna medicina científica e a neurologia surgiu formalmente como uma especialidade em 1882, quando Charcot (1825 – 1893) assumiu como primeiro professor de neurologia na Faculdade de Medicina na Universidade de Paris. A partir de 1862, ele organizou um serviço de neurologia na Salpètrière, onde realizou descrições originais da semiologia e patologia de várias doenças neurológicas. Nas reuniões de terça-feira (Leçons de mardi), freqüentadas por grande número de discípulos e visitantes, eram apresentados e discutidos os casos clínicos.
 
André Brouillet (1857 – 1914), na Une leçon clinique à la Salpêtrière (1886) retrata uma destas reuniões. No quadro Charcot está demonstrando um caso de histeria para um grupo de médicos. Seu discípulo, Babinski, está mantendo a paciente. Paul Richer, médico e artista que realizou vários desenhos dos pacientes de Charcot, encontra-se sentado junto à mesa, à esquerda de Charcot. Este quadro constitui indispensável iconografia à história da neurologia e da psiquiatria. Oferece uma galeria de neurologistas que deram origem a vários epônimos: doença de Charcot, sinal de Babinski, síndrome de Parinaud, doença de Charcot-Marie, lei de Ribot, esclerose tuberosa de Bourneville, doença dos tics de Gilles de la Tourette. Entre os assistentes estrangeiros, encontra-se Freud, que em 1885 estudou com Charcot e traduziu as obras do mestre para o alemão. De retorno a Viena, Freud desenvolve suas próprias teorias sobre a histeria e cria a psicanálise, que exerceu grande influência sobre a psiquiatria e o pensamento do século XX (Signoret, 1983).
 
Paul Richer (1849 – 1933) era chefe de laboratório da Clinique des Maladies du Systéme Nerveux. Foi interno de Charcot, que observou seu talento de desenhista e o convidou para ilustrar os casos do serviço. Médico, desenhista e escultor, publicou juntamente com Charcot Démoniaques dans l’art, em 1877 e Les difformes et les maladies dans l’art, em 1889. No quadro Ataque epiléptico registra crise convulsiva de uma paciente da Salpètrière. Na tela Hemiespasmo glosso-labial, Richer registrou o primeiro caso desta enfermidade visto por Charcot. Poucos dias depois, em uma viagem a Veneza, Charcot encontrou em uma máscara grotesca da Igreja Santa Maria Formosa todos os caracteres desta deformação mórbida (Charcot, Richer, 1889).
 
Em 1817, James Parkinson (1755 – 1824) descreveu o quadro clínico caracterizado por tremor de repouso, fácies inexpressiva e marcha em pequenos passos que ele denominou shaking palsy ou paralysis agitans e Charcot denominou doença de Parkinson.  Charcot a representou em pintura e Richer em escultura.
 
No final do século XIX, duas representações artísticas de trauma craniano são encontradas. Em Ivan, o Terrível, com seu filho Ivan (1885),  Ilya Repin (1844 –1930) representa a cena ocorrida em 16-11-1581, quanto o primeiro Czar, Ivan IV, o Terrível (1530 – 1584), abraça seu filho, que ele matou com as próprias mãos. Em Os últimos sacramentos (1890), Rafael Romero de Torres (1865 –1898) retrata um pedreiro, vítima de traumatismo cranioencefálico por acidente de trabalho, recebendo a extrema-unção.

SÉCULO XX    

A pintura mexicana atingiu seu ponto máximo na primeira metade do século 20. Frida Kahlo (1907–1954), considerada uma das maiores artistas mexicanas, envolveu-se, quando tinha 18 anos, em um sério acidente de ônibus e fraturou três vértebras, algumas costelas e a pelve. Tal episódio é retratado em Acidente (1936). Em 1944, pintou o quadro, A coluna fraturada que a mostra imobilizada por um colete. A coluna jônica na pintura representa sua coluna com múltiplas fraturas. Os pregos fincados no corpo representam a dor e o sofrimento da artista. Foi submetida a sete operações da coluna pelo Dr. Farill e, em agradecimento, pintou, em 1951, o quadro Auto-retrato com o retrato do Dr. Farill (1951).
Interessante relação entre doença neurológica e alteração da capacidade artística é a prosopagnosia (perda da faculdade de reconhecer as fisionomias) desenvolvida por Anton Raderscheidt (1892 – 1970), pintor expressionista alemão. Este pintor alemão sofreu, em 1967, com a idade de 65 anos, acidente vascular encefálico com comprometimento do lobo parietal direito que determinou hemianopsia e hemiplegia esquerdas. Durante os meses que se seguiram à doença, Raderscheidt realizou mais de 80 auto-retratos baseando-se na imagem vista no espelho. Nos primeiros auto-retratos o artista pinta somente a metade do quadro que corresponde ao campo visual normal, deixando o resto da tela em branco. Na seqüência das pinturas observa-se a progressiva recuperação do campo visual que constitui exemplo da admirável constância do artista (Mir Fullana, 2005).
 
Andrew Wyeth (1917 –), em O mundo de Christina (1948) retrata Christina Olson, filha de amigos do pintor, acometida de poliomielite e impossibilitada de andar. No quadro é representada a atrofia das extremidades que caracteriza a doença.
Cada época criou um paradigma para o cérebro. Com o surgimento da eletrôncia e da informática, o computador passou a ser a melhor analogia para o cérebro. Esta analogia é representada no Reciprocal study de Henryk Berg, de 1927.
No início do século 20, graças a Cushing (1869 - 1939), a neurocirurgia firma-se com especialidade. Ela nasceu, como a neurologia de Charcot, sob o signo da arte, pois foi implantada por um artista. O talento artístico de Cushing está bem evidente nos vários desenhos de paisagens e de fatos de sua vida cotidiana e nas figuras para publicações. No desenho de Cushing,  Operação do gânglio de Gasser, de 1900, é mostrada a posição do gânglio de Gasser na base do crânio e sua relação com a abertura craniana, a artéria meníngea, e os três ramos do nervo trigêmeo.  No desenho Área motora, de 1906, é exposta a área motora do cérebro de um homem com epilepsia focal secundária a ferida por bala na área da linguagem.  O crânio pintado em água de cor, de data desconhecida, impressiona pela habilidade artística do fundador da neurocirurgia.
Apesar da neurocirurgia ser uma especialidade do século 20, trepanações (abertura intencional do crânio) foram realizadas desde o período neolítico eurasiático e na América pré-colombiana, principalmente no Peru incaico. Um tumi mostra claramente, pela representação plástica na ponta do cabo, o fim a que se destinava: fazer trepanações. Os crânios encontrados provam que os operados geralmente sobreviviam. Os incas, do Peru, eram peritos nesta operação. Supõe-se que o objetivo era tratar a doença (epilepsia, loucura), permitindo que o espírito maligno saísse do corpo pelo orifício aberto na cabeça (Broca; Osler; Horsley). No quadro Trepanação inca, Robert Thom (1915-1979), pintor e ilustrador, especializado em reconstruir cenas históricas, representa um cirurgião peruano do século primeiro realizando trepanação. Em um de seus murais, Diego Ribera (1886 – 1957), esposo de Frida Kahlo, também representa trepanação inca.

A obra de Oppenheim, Nascimento de Atenas (1618), é a representação do primeiro procedimento neurocirúrgico conhecido, narrado na Teogonia de Hesíodo (séc. VIII a.C.). Zeus foi acometido de forte cefaléia e Hefesto, deus do fogo e da cirurgia, foi chamado para tratá-lo. Com uma machadada, abre o crânio de Zeus, de onde sai Atenas, deusa da sabedoria e da razão.

A operação para extração da pedra da loucura – fundada sobre a crença de que o cérebro dos loucos continha uma pedra, causa da instabilidade – consistia em praticar uma incisão na testa do paciente e, com a cumplicidade de um assistente, simular a extirpação de uma pedra. Esta cirurgia fazia parte da vida rotineira e da cultura holandesa da época e muitos artistas de renome dos séculos 16 e 17 – Bruegel, Bosch, Jan Steen, Téniers, Hals, Brouwer – pintaram quadros com o título Extirpação da pedra da loucura.


 

 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
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