Faculdade de Medicina de Itajubá

22/06/2011 23:06

HISTÓRIA DA FACULDADE DE MEDICINA DE ITAJUBÁ

(O texto foi extraído na íntegra do livro “História da Medicina – Curiosidades & Fatos” de autoria de Lybio Martire Junior, Editora Astúrias, 2004, razão pela qual, traz algumas impressões e poesias do autor, relacionadas à Faculdade, além da história propriamente dita)
                                                                                                                                                                                                                           
 
 
            Não poderia abdicar do prazer de incluir neste livro um capítulo dedicado à história da Faculdade de Medicina de Itajubá, o que se constitui em uma homenagem que faço à minha querida escola e também um relato dos fatos e curiosidades que envolveram sua criação bem como uma homenagem a todos aqueles que possibilitaram sua realização.
            Serão abordados os acontecimentos mais ilustrativos que ocorreram desde o nascimento da idéia de sua criação até o reconhecimento da faculdade, com base em depoimentos de pessoas que viveram essa época.
            A Faculdade de Medicina de Itajubá (FMIt) deve-se ao envolvimento, ao apoio e à colaboração de muitos que se engajaram na luta pela realização do ambicioso projeto de sua fundação, em especial ao médico Rosemburgo Romano, de cujo espírito ousado e aventureiro partiu a idéia de sua criação e a liderança do movimento.
            A simpática cidade de Itajubá foi fundada em 1853, pelo padre Lourenço da Costa no seio da Serra da Mantiqueira às margens do rio Sapucaí.
            No começo do século XX teve a ventura de fazer um presidente da república, Wenceslau Braz, o que estimulou seu desenvolvimento naquele período.
            Em 1913 o cunhado do então presidente, Theodomiro Santiago, fundou a primeira faculdade de engenharia elétrica do Brasil, o Instituto Eletrotécnico de Itajubá, hoje, a Universidade Federal de Engenharia de Itajubá, o que moldou a  vocação universitária do lugar.
            Em 1960, Itajubá, com uma população em torno de 30 mil habitantes, possuía apenas um hospital, a Santa Casa de Misericórdia, fundada em 1894.
            Em julho daquele ano chegou à cidade o jovem médico Rosemburgo Romano, formado na primeira turma da Faculdade de Medicina de Uberaba, que, unindo-se a outros médicos, fomentou a idéia da criação de um novo hospital.
            Para por em prática a ambiciosa aspiração, em 1963, foi criada uma sociedade anônima denominada Hospital Itajubá Sociedade Anônima (HISA), cujo primeiro contrato social foi elaborado pelo Sr. Alberto Pereira Filho, como Sociedade em organização, tendo inicialmente como membros oito médicos da cidade, que eram, em ordem alfabética: Dr. Adílio Guimarães Dias, Dr. Basílio Pinto Filho, Dr. Erasmo Cardoso, Dr. Joaquim Lima Coelho, Dr. José Pinelli, Dr. José Sebastião Rezende Monti, Dr. Orlando Sanches e Dr. Rosemburgo Romano.
            Dr. Adílio quis ceder seu casarão, hoje pertencente à receita estadual no bairro da Boa Vista, mas, o antigo imóvel, apesar de grande e imponente, seria pequeno para o que se pretendia, assim, foram criadas ações para serem vendidas à população, o que geraria os dividendos para a construção do futuro hospital.
            Os primeiro impressos relativos às ações do HISA foram feitos sob a forma de crediário pelo Sr. Geraldo Teófilo de Oliveira, pai da Dra. Daisy Mara de Oliveira Valério, anestesista, tendo financiado, portanto, a verba inicial do futuro hospital.
            Os papéis das ações começaram a ser vendidos, com grande aceitação pela população de Itajubá e também pelas populações de cidades vizinhas, que entenderam a importância do empreendimento para toda a região, arrecadando dinheiro suficiente para a construção do hospital.
            As plantas do hospital foram feitas pelo eng. Joaquim Nogueira da Gama, engenheiro do DER, cel. Miranda, eng. do exército, com o auxílio de outros, como Dr. José Ernesto Coelho, que trouxe fotografias de um moderno hospital dos Estados Unidos que acabou influenciando a planta definitiva.
            Ainda no ano de 1963, foi adquirida uma área de propriedade da Sra. Cândida Gonçalves Bustamante e de seu marido Sr. José Gomes Bustamante, em um morro, no local denominado Chácara das Moças, atualmente Morro Chic. O casal e seus filhos José, Antonio e Tereza Bustamante, prestaram grande colaboração ao projeto, posto que, o valor  que a sociedade anônima não tinha para pagar, foi financiado à longo prazo, tendo sido completado o pagamento muitos anos depois. O espírito nobre da família Bustamante jamais cobrou a instituição, deixando-a livre para pagar como e quando pudesse. Mais tarde seriam adquiridas mais duas outras áreas acima e ao lado do hospital.
            As obras do hospital tiveram início em 31 de dezembro 1963, estando presentes, entre outros, o padre Agostinho Picardi, pároco da cidade, Dr. Rosemburgo Romano, Dr. Orlando Sanches, Sr. Antonio Rieira, Sr. Sebastião Inocêncio Pereira, redator do jornal O Sul de Minas.
            O prefeito na época era o Sr. José Maria Campos, mas, como a prefeitura estava em sérias dificuldades financeiras, o apoio restringiu-se apenas à aprovação da planta.
            Só em 04 de maio de 1965, entretanto, com as obras já em andamento e contando já com mais de mil associados, é que foi lavrada uma Escritura Pública de Constituição da Sociedade Anônima Hospital Itajubá, até então nada estava oficializado, na qual consta um prédio em construção em terreno de 4.400m². A este ato estiveram presentes: Dr. Jerson Dias, Dr. Ítalo Mandolesi Filho, Dr. Joaquim Lima Coelho, Dr. Orlando Sanches, Dr. Rosemburgo Romano, Dr. Erasmo Cardoso, Dr. José Lourenço de Oliveira, Dr. Basílio Pinto Filho, Sr. Walter Mohallem, Sr. João Aldano da Silva, Sr. Roberto Benedito Andrade Carneiro, Sr.João Pinto Ribeiro, Sr. João Mauro de Morais e Sr. Antonio Martins Riêra
            As ações continuaram a ser vendidas, havendo grande colaboração na divulgação, na venda e na aquisição, por parte de médicos, outros profissionais e de grande parcela da população, não apenas de Itajubá, mas também de cidades vizinhas como Pedralva, Carmo de Minas, São José do Alegre (aqui se destacam o apoio do Sr. Geraldo Daniel de Carvalho, Sr. Benedito Mendonça e Sr. José de Campos), Santa Rita do Sapucaí (sob a liderança do Dr. Elias Caláz), Piranguinho, Brazópolis, Paraisópolis, Conceição dos Ouros entre outros municípios, que compreenderam a importância do projeto para a região.
            Não houve apoio do governo de Minas e então Rosemburgo Romano buscou apoio em São Paulo, do Sr. Laudo Natel, que se prontificou a ajudar, concedendo empréstimo através do Bradesco, banco do qual ele era acionista e fazendo apresentações a empresas de São Paulo que poderiam fornecer material hospitalar.
            Em 1966 as obras do hospital estavam praticamente concluídas e a aparelhagem começou a ser adquirida gradativamente. A empresa White Martins também concedeu crédito especial através do Sr. Pinheiro que era seu representante na região e do Sr. Félix Bulhões, diretor proprietário da empresa.
            Ainda em 1966, ocorreu um grande movimento estudantil em nível nacional por parte dos alunos excedentes dos vestibulares, uma vez que o exame vestibular na época tinha normas diferentes, que estabeleciam nota de aprovação, mas não havia vagas nas faculdades para todos os alunos aprovados, gerando os excedentes. As quatro faculdades de medicina de Minas Gerais, por exemplo, duas em Belo Horizonte, uma em Juiz de Fora e uma em Uberaba ofereciam em torno de 240 vagas em sua totalidade.
            O governo do então presidente Costa e Silva preocupou-se com o fato e prometeu criar mais escolas para absorver esses estudantes.
            Assim, em 1966, Rosemburgo Romano aproveitando o momento, bem como, a história e tradição de Itajubá no ensino, lançou a idéia da criação de uma Faculdade de Medicina, a qual foi, na época, vista, por muitos, como visionária, como um sonho impossível.
Todavia, inspirado da saga de Theodomiro Carneiro Santiago que no início do século criara uma faculdade de engenharia em uma pequena cidade no seio da Mantiqueira e na atitude de Juscelino Kubitschek que em Uberaba ao receber o pedido  para ampliação do prédio da penitenciária, resolveu transformá-lo em Faculdade de Medicina, achando que seria mais útil à cidade, Rosemburgo convenceu-se de que se Uberaba, cidade de tradição pecuária, criou uma Faculdade de Medicina, na qual ele havia se formado, certamente Itajubá, com tradição universitária desde de 1913, também poderia ter a sua. O hospital inclusive, já estava praticamente pronto embora ainda não em funcionamento.
A idéia germinou e pessoas das mais variadas profissões, além de médicos, foram contatadas para somarem esforços.
Rosemburgo acompanhado de Sebastião Osvaldo da Silva e do farmacêutico, mais tarde médico, Expedito Magalhães Ribeiro, foram à casa do Prof. Dr. Eurípedes Garcia em São Paulo, que havia sido professor em Uberaba e era médico do Hospital das Clínicas e da Beneficência Portuguesa, para elaborar o estatuto da futura Faculdade.
O Prof. Eurípedes Garcia conseguiu estatutos de várias faculdades como Uberaba, Escola Paulista, Campinas e USP para servirem de modelo.
Muitos médicos de São Paulo tornaram-se amigos e apoiaram a idéia da interiorização da medicina incentivando-a, como Dr. Dante Pazzanese, Dr. Adib Jatene entre outros.
Nessa época foi novamente procurado o apoio do Sr. Laudo Natel, então governador de São Paulo que novamente solícito mostrou toda a boa vontade em ajudar. Sua influência seria fator vital no processo de autorização da faculdade, lembrando que nessa época havia uma verdadeira corrida entre várias futuras escolas, pleiteando a autorização para funcionamento.
Embora só existindo no papel a Faculdade, Rosemburgo intitulou-se diretor e nomeou Sebastião Osvaldo da Silva secretário geral. Foi feita grande divulgação da Escola pelos meios de comunicação, contando com a inestimável ajuda do jornalista Sebastião Inocêncio Pereira, redator e diretor do jornal “O Sul de Minas”. A divulgação atingiu os meios de comunicação não só de Minas, mas, também de São Paulo, do Rio de Janeiro e de outros estados, chamando a atenção para novo vestibular que em breve seria realizado.
Era necessário também, por normas governamentais, para a criação de uma Faculdade isolada, que ela estivesse ligada a um órgão público, a uma fundação, a uma sociedade ou associação.
Foi constituída uma comissão integrada pelos senhores: Dr. Basílio Pinto Filho, Dr. Sebastião Rezende Monti, Sr. Sebastião Osvaldo da Silva e o farmacêutico Expedito Magalhães Ribeiro que, em abril de 1967, procuraram pela Fundação Theodomiro Santiago ligada à Faculdade de Engenharia, na pessoa de seu Presidente Pedro Mendes dos Santos a quem foi feito o apelo da incorporação da Faculdade de Medicina de Itajubá por essa Fundação. Havia ainda memoriais assinados por diretoras de treze escolas de 2O grau, pela Diretoria do Lions, por médicos, odontologistas e vários outros, em um grande movimento liderado por Rosemburgo Romano, conforme consta em ata.
Assim, em 23 de abril de 1967, a Fundação Theodomiro Santiago torna-se Mantenedora da Faculdade de Medicina de Itajubá, considerando que o patrocínio da criação da Faculdade de Medicina de Itajubá representaria inestimável serviço prestado ao Estado de Minas e ao país no campo do ensino de nível superior. Ficou designado o nome do Dr. Rosemburgo Romano como diretor da Faculdade na ata dessa reunião. Em 1970 a Fundação Theodomiro Santiago deixaria de ser mantenedora e seria criada a Fundação Universidade Regional de Itajubá (FURI), em 27 de agosto de 1970, pelo diretor Dr. Rosemburgo Romano, passando a ser a nova mantenedora. Em 1972 foi extinta a FURI e criada a Associação de Integração Social de Itajubá (AISI), como nova mantenedora da Faculdade, na gestão do Dr. Ítalo Mandolesi Filho como diretor, tendo como administrador o Sr. João Aldano da Silva, que organizou toda a parte administrativa da instituição. A Associação de Integração Social de Itajubá (AISI) permanece como Mantenedora da Faculdade até o presente tendo-se tornado entidade de utilidade pública pela lei No 6.734 de onze de dezembro de 1975, assinada pelo então governador Dr. Aureliano Chaves de Mendonça.
Voltando ao ano de 1967, já com todos os papéis prontos, uma comitiva de cerca de 40 pessoas, entre os quais: Rosemburgo Romano, José Ribeiro Filho, Dr. Walter Cabral (Juiz de Direito), Sebastião Osvaldo da Silva, Dep. Euclides Cintra, Dep. Luiz Fernando Faria de Azevedo, Dr. Amarílio Barreto Costa, Dep. Aureliano Chaves entre outros, dirigiu-se ao Conselho Federal de Educação no Rio de Janeiro para protocolar o projeto de criação da Faculdade.
O então prefeito de Itajubá Tigre Maia, neto do escritor Bastos Tigre, também integrante da comitiva e que deu grande apoio a todo processo de criação da Faculdade, preparou o campo para a entrevista com o diretor do Departamento de Educação, Sr. Epílogo Gonçalves de Campos.
Aqui cabe uma curiosidade: foi encarregado pela comitiva, que estava no saguão do edifício, o Dep. Aureliano Chaves de representá-la junto ao diretor. Entretanto ao voltar da entrevista, comunicou a resposta daquele, dizendo que melhor seria sobrestar, ou seja, deixar para outra oportunidade, amadurecendo melhor a idéia. A comitiva acatou o comunicado e começou a dispersar-se, todavia, Rosemburgo Romano e Sebastião Osvaldo da Silva com os pacotes de papéis em mãos, tomaram a iniciativa de levar a termo o objetivo da missão. Ambos subiram ao quinto andar do prédio e conseguiram, após uma longa conversa, protocolar o projeto.
A partir daí, o caminho seria descobrir quem eram os conselheiros e travar contato com os responsáveis por avaliar o projeto para possível aprovação.
A amizade de Rosemburgo com Dona Iolanda, esposa do Presidente Costa e Silva e da família Bustamante com ambos, bem como e especialmente, a influência e o apoio do Governador Laudo Natel, seriam decisivos.
O presidente Costa e Silva, após transferir um conselheiro, nomeou Peregrino Junior como conselheiro substituto, ficando este como responsável pela aprovação do projeto. Após vários outros contatos, nos quais pesou a participação e a influência política de Laudo Natel, foi dada a aprovação. No gabinete de Peregrino Junior, quando de sua anuência, estavam presentes: Rosemburgo Romano, o prefeito Tigre Maia e o Sr. Sebastião Osvaldo da Silva.
O Conselho Federal de Educação, em 01 de abril de 1968, autorizou o funcionamento da Faculdade de Medicina de Itajubá, sendo esta a data oficial de sua criação.
Foi convocado o primeiro vestibular, oferecendo sessenta vagas, sendo que o MEC autorizou, ainda na primeira turma, o aumento para setenta e duas vagas.A partir da segunda turma o número de vagas passaria a cem.
A Faculdade começou a funcionar no prédio do Hospital das Clínicas, onde as aulas eram ministradas. Assim nascia a quinta Faculdade de Minas Gerais.
O corpo docente foi constituído, a convite de Rosemburgo Romano, por professores renomados com  o intuito de oferecer o melhor em ensino e também dar nome à escola que se iniciava. Integraram o quadro de professores: Prof. Samuel Pessoa, Prof. Luigi Boigliolo, Prof. Adib Jatene, Prof. Edmundo Chapadeiro, Prof. Lauro Solero, Prof. Oswaldo Castro, Prof. Waldemar de Carvalho, Prof. Tasso Ramos de Carvalho, entre muitos outros luminares da medicina brasileira.
O hospital mais tarde receberia o nome de Hospital Escola da FMIt.
Para ocorrer esta transformação, tornando-se ele propriedade da Faculdade, seria necessária a doação das ações do Hospital Itajubá S.A. que haviam sido adquiridas pela população, logo no início da criação da Escola. Foi então deflagrado movimento nesse sentido, do qual participaram médicos e acadêmicos, merecendo destaque o nome de Michel Julien Jr., presidente do diretório, que ia diariamente à TV Itajubá, de propriedade do Sr. Nagib Mohallem pedir as doações.
Mais uma vez, a população de Itajubá, e das cidades vizinhas, demonstrariam seu espírito altruísta - a quase totalidade das ações do Hospital Itajubá S. A. foi doada à Instituição.
A Faculdade precisava de um símbolo. Foi então lançado concurso, em 1968, para escolher o emblema mais criativo e representativo. O acadêmico da primeira turma, José Ribeiro Cottini, desenhou a alegoria contemplada, na qual, o bastão de Esculápio envolto com uma cobra, foi substituído pelo “I” relativo à cidade de Itajubá, colocado no centro do emblema da Instituição, a idéia foi do presidente do diretório, acadêmico Michel Julien Junior.
Não havia, entretanto, ainda, o prédio da Faculdade e aqui cabe outra curiosidade: na época da aprovação, veio a Itajubá uma comissão do Conselho Federal de Educação do Rio de Janeiro, para fiscalizar o patrimônio físico da Faculdade. Rosemburgo conseguiu que fosse feita a cessão do prédio de propriedade do médico radiologista Dr. José Lourenço de Oliveira, localizado à rua Dr. Pereira Cabral, no centro, e do edifício do “Instituto Padre Nicolau” no bairro Avenida, para a Escola, entretanto, a Faculdade nunca funcionou nesses locais. No hospital, na parte inferior isolada, hoje próxima ao estacionamento, funcionaria a anatomia no princípio. O patrimônio apresentado impressionou a comissão.
O terreno onde hoje é o campus da faculdade, foi doado pela Sra. Sinhá Moreira e pelo Sr. Luis Carlos Carneiro, de Santa Rita do Sapucaí que eram donos de grande loteamento no local e este último, dono da agência de veículos onde hoje é a Itavel.
O loteamento por ser em local desfavorável, posto que era brejo, não havia tido aceitação sendo inclusive embargado pelo prefeito da época.
Em 1967 o Sr. Nagib Mohallem que estava intermediando a venda do loteamento, procurou por Rosemburgo, dizendo-lhe que os donos se dispunham a doar uma gleba de terra para a Faculdade, pois a construção da mesma seria um estímulo ao loteamento , ao bairro e além disso eles estavam felizes em prestar sua contribuição à Faculdade. A doação foi efetivada constando de dois lotes de 5.000 m² cada, entremeados por uma rua. Ao se efetivar a doação, o prefeito Tigre Maia já havia oficializado o loteamento e autorizado também a inclusão da rua do vintém, totalizando o terreno então 10.870 m².
A rua da Faculdade, R. Cel Renó Junior, foi aberta a mando da própria direção da Faculdade com auxílio do Dr. Pedro Fonseca Paiva chefe do DER e foi também, realizado, pela direção, um aterro de um metro e meio em toda a área. 
Na planta do loteamento havia ainda um espaço reservado para uma praça ao término da rua da Faculdade (R. Coronel Renó Junior) cuja doação seria solicitada ao prefeito Tigre Maia. O Prefeito concedeu a doação do terreno que viria tornar-se a praça de esportes do diretório acadêmico, que leva o nome do Prof. Ítalo Mandolesi Filho, segundo diretor da Faculdade que empenhou-se em sua construção. A praça de esportes abriga hoje o complexo esportivo do diretório acadêmico e sua discoteca “Albatroz”.
O Diretório Acadêmico foi fundado pelos alunos da primeira turma em junho de 1968 e estes em votação resolveram dar o nome ao diretório de “Rosemburgo Romano”, entretanto, este reuniu os alunos e declinou da honra agradecendo, preferindo que fosse dado o nome de Laudo Natel como agradecimento a todo apoio recebido do então Governador de São Paulo, possibilitrando a autorização da Faculdade. O diretório acadêmico passou a ser denominado: “Diretório Acadêmico Laudo Natel” (DALANA), conforme consta na ata de sua fundação.
Em 1986, entretanto, haveria um movimento estudantil liderado pelos membros do diretório da época pleiteando a eleição de diretor pelo voto direto dos corpos docente e discente. A desejada eleição deveria ocorrer no dia 08 de outubro daquele ano, mas jamais foi realizada, ainda porque, contrariaria os estatutos. Aquele grupo de alunos, idealistas, mas, certamente desconhecendo a história da instituição, o nome de seus benfeitores e o ideal dos alunos da primeira turma, mudaria o nome do diretório para 08 de outubro, uma data em que, na verdade, nada se concretizou.
Às vezes, o excesso de idealismo de alguns menospreza as razões do ideal de outros que os antecederam, sem as quais, eventualmente, poderiam sequer existir os motivos dos ideais presentes.
O prédio da Faculdade foi inaugurado em 1970 e todo o bairro à sua volta acabou sendo denominado “Medicina”.
Em outubro de 1970, Dr. Rosemburgo Romano deixou a diretoria e com ele sairia também o secretário geral Dr. Sebastião Osvaldo da Silva. Nesse ano assumiria a direção o Prof. Dr. Ítalo Mandolesi Filho que, entre outros feitos administrativos, como a construção da Praça de Esportes do Diretório Acadêmico que leva seu nome, colocou o hospital em funcionamento definitivo e obteve o reconhecimento da Faculdade em 1974.
A partir de 1971 tornar-se-ia secretária geral da Faculdade a Profa. Srta. Lucy Martins Corrêa, em cujo cargo permanece até hoje, tendo prestado serviços inestimáveis à Instituição em todos esses anos.
Sucedeu o Prof. Dr. Ítalo Mandolesi Filho, na direção (1970-1974), o Dr.  Eurípedes Garcia em cuja gestão (1975-1978) o hospital foi ampliado.
Ele seria sucedido pelo Dr. Expedito Magalhães Ribeiro, que permaneceria na direção por duas gestões (1979-1982) e (1983-1986), nas quais houve novas ampliações do hospital e reforma do prédio da Faculdade.
A seguir na direção viria o Dr. Kleber Lincoln Gomes (1987-1990). Em sua gestão o numero de vagas passaria de cem para sessenta objetivando priorizar o ensino. Atualmente é o presidente da AISI.
Depois viriam Dr. Paulo Aparecido do Amaral Seches (1991-1992); Dr. José Hildoberto Colares (1992-1993); Dr. Carlos Magno (1993-1994); Dra. Maria Zilda Cardoso (1995-1996); Dra. Maria Christina Anna Grieger (1996-1998) e (1999-2002) e o atual diretor, a partir de 2003, ex-aluno da sétima turma da faculdade, Dr. Sérgio Visoni Vargas.
 Em 1998 tivemos a satisfação de criar na faculdade o “Acervo Histórico da Fmit”, espécie de museu disposto em vitrines, sendo desse modo expansível, que tem por objetivo resgatar e preservar objetos e dados da História da Medicina e da História da Instituição. A primeira doação ao museu, com a qual iniciou-se o acervo, foi feita pelo médico de São Paulo Dr. Quirino de Castro Cotti. O acervo é aberto à visitação e recebe doações.
Em 1999 a FMIt. criou o curso de Nutrição que funciona no próprio Campus da Instituição. Nesse período foi também criada a Escola Politécnica de Saúde que funciona à noite e oferece à comunidade cursos técnicos de saúde.
O Hospital Escola hoje é referência em toda a região com quase trezentos mil  atendimentos/ano entre ambulatoriais e emergenciais.
O sonho, há muito, tornou-se realidade e a população que tão solidariamente somou esforços contribuindo com ele, é hoje, em última análise, a maior beneficiária de sua concretização.
A Faculdade desde o princípio tem forte vínculo com a comunidade através de campanhas e  ações comunitárias realizadas na área de saúde, ora  pelos alunos, ora pela instituição, orientando seus alunos.
Outro aspecto interessante da Faculdade de Medicina de Itajubá, é a relação aluno-professor, desde os primórdios descontraída e estreita, fator que torna o convívio entre todos tão agradável. Talvez porque a cidade seja cercada por montanhas de beleza inspiradora, ou porque tudo tenha começado de forma tão singular,  com participação ativa dos alunos ou ainda, talvez  porque, uma instituição que desde o início se mantém com recursos próprios e não tem um dono, estimule uma relação onde todos sentem-se como membros de uma mesma família.
Exemplo disto é o “Show Med”, espetáculo de variedades com participação de alunos e professores, que acontece na noite da quinta-feira, durante a “Semana Médica” - o congresso científico anual da Escola.
Não importa o porque, o fato é que a Faculdade de Medicina de Itajubá é especial.
Ao finalizar, deixo aqui três poesias relacionadas à Faculdade que fiz em tempos diferentes, e que expressam um único sentimento, que certamente todos os que lá estão e que por lá passaram conseguem sentir: o amor à instituição.

 

BOEMIA CIENTÍFICA

Apreciar o alvorecer,
o descortinar da aurora
na serra da Mantiqueira,
será mais para quem o possa,
do que para quem o queira,
posto que é preciso, aliar a um coração sensível,
a disposição do corpo e o tempo disponível,
da madrugada de uma quarta-feira.
O cascatear de águas cristalinas  em filetes cândidos,
por entre o violáceo das quaresmeiras floridas, ou de outra vez ,
entre o dourado dos ipês.
O azul do firmamento, somado ao movimento
de aves e borboletas coloridas, enaltecendo a liberdade e a vida,
sobre um manto verde variado , num palco de tom avermelhado,
pelo despertar do astro rei,
é parte do espetáculo, visto por quem passa
e que a natureza, generosamente, expõe de graça.
Mais além, no coração da serra,
existe uma cidade hospitaleira,
como que lapidada para lá mesmo ter que estar,
animada e cativante,
principalmente, pela parcela flutuante da população existente,
denominada estudante.
Afetivo espontâneo e amigo por excelência,
esse tipo de indivíduo tem costume singular,
é da noite tanto quanto é do dia,
põe em tudo um toque de alegria,
enquanto, prazerosamente,
pelo futuro, vive o presente e ainda, com invejável sabedoria,
nos ensina a arte de conciliar, na mais perfeita harmonia,
a ciência e a boemia.
   
 

FACULDADE DE MEDICINA DE ITAJUBÁ

  (Uma declaração de amor à minha Escola)
 
Semente do conhecimento Hipocrático,
plantada no seio da Mantiqueira,
em localidade mineira,
universitária por tradição consolidada.
O ideal de alguns, germinado, tem frutificado
a realização profissional de tantos.
É preciso lembrar a coragem,
as lutas e dificuldades do princípio,
a fragilidade incipiente,
para compreender e admirar
o significado grande do presente.
Professores pioneiros missionários,
arrojados primeiros diretores,
jovens acadêmicos, idealistas e promissores,
dedicados, desprendidos funcionários,
unidos, consolidaram o que hoje aí está:
Faculdade de Medicina de Itajubá.
Momento de reflexão.
Tributo de gratidão.
Sublime a missão dessa entidade.
Quanto sofrimento amenizado,
quantas vidas salvas, no presente, no passado
e que ainda há por salvar,
pelas mãos daqueles, que um dia alunos,
através dela, aprenderam a curar.
           
          

IMPRESSÕES DE UM PROFESSOR

 
Perguntam-me às vezes,
até quando irei viajar,
na ida semanal à faculdade,
se não me canso de ensinar.
Assim como é impossível
cansar-me das belezas da Mantiqueira,
tão diversas e por todo trajeto tão constantes,
é igualmente impossível,
cansar-me do convívio com os  estudantes,
da amizade desinteressada,
das palavras e atitudes,
que esbarram ainda, de certo modo,
na autenticidade da primeira infância.
Do interesse por tudo sempre presente,
do clima de descontração,
do olhar portando jovialidade,
que não esconde um toque de admiração.
 
 
 
As informações contidas neste capítulo basearam-se em cópias de documentos compiladas pelo Sr. João Aldano da Silva e nos depoimentos de professores e pessoas que foram testemunhas ou protagonizaram  a história da Faculdade de Medicina de Itajubá, aos quais deixo aqui meu agradecimento:
 
Prof. Dr. Ítalo Mandolesi  Filho,
Prof. Dr. João Bosco do Amaral Soares,
Prof.  Dr. José Hildoberto Colares, 
Profª Lucy Martins Corrêa,
Dr.  Michel Julien Junior,
Prof. Dr. Rosemburgo Romano.