Augusto Paulino Soares de Souza

22/06/2011 13:54

DR. AUGUSTO PAULINO SOARES DE SOUZA

 

 

Nasceu Augusto Paulino Soares de Souza em 4 de Setembro de 1877, no Rio de Janeiro, neto do Visconde do Uruguai e filho do Conselheiro Paulino José Soares de Souza, advogado ilustre, várias vezes ministro e último presidente do Senado do Império quando da proclamação da república em 1889, e de sua esposa, Maria Amélia da Silva Soares de Souza. 
Fez seus primeiros estudos no Colégio Anchieta de Nova Friburgo. Terminados seus estudos de humanidades, inscreveu-se em 1894 na Faculdade de Medicina  do Rio de Janeiro. No ano seguinte, ingressa como interno do Hospital da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Terminado o curso médico, em 1899, alcança o cargo honroso de Interno da Faculdade, servindo na enfermaria da Segunda Cadeira de Clínica Médica, a cargo do famoso professor, Dr. Benício de Abreu, onde adquiriu as características de médico clínico, confirmando suas afirmações posteriores de que o cirurgião deve ser um clínico que opera. 
Durante o curso médico, acompanhou na Anatomia Médico Cirúrgica e na Clínica Cirúrgica o ilustre professor Augusto Brant Paes Leme, de quem se tornou discípulo favorito, adquirindo dele os dotes de exímio desenhista, além de anatomista. Prova isso a sua tese de doutoramento, em 24 de Janeiro de 1899, “Cirurgia do pulmão e da pleura”, assunto que, à época, era ainda muito pouco explorado na literatura médica. 
Numa de suas conclusões, sua tese declara que a tuberculose seria, no futuro, tratada cirurgicamente, em suas complicações, o que foi comprovado mais tarde, cerca de 50 anos depois, inclusive pela operação proposta por seu filho, Fernando Paulino, com a apicolise, denominada “Paulino’s procedure” na literatura médica mundial. 
Em Março do mesmo ano, foi nomeado para o cargo de Preparador da Cadeira de Anatomia Médico-cirúrgica, por onde iniciaria a prática do ensino da cirurgia. Lecionou em vários cursos, devidamente aprovados pela congregação, a Anatomia Médico-cirúrgica e a Clínica Cirúrgica. 
É nomeado, no ano seguinte - importante passo em sua carreira - cirurgião efetivo da Santa Casa da Misericórdia e da Associação dos Empregados do comércio,, tendo exercido, nesta última entidade, durante muitos anos, o cargo de diretor dos Serviços Clínicos. 
Seus brilhantes esforços em prol do ensino, concedem-lhe, em 1911, a nomeação de Professor Extraordinário de Anatomia Médico-cirúrgica, posto no qual amplia e confirma sua já reconhecida competência. Em 1916, é designado Professor Catedrático de Clínica Cirúrgica, sucedendo seu mestre Paes Leme, por dois terços da congregação da Faculdade de Medicina. Toma posse, em 1911, como chefe da 15ª enfermaria da Santa Casa da Misericórdia, chefia esta ocupada, mais tarde, por seu filho, Prof. Augusto Paulino Filho. 
Ensina, na Santa Casa, e na Faculdade de Medicina, de 1910 a 1945, quando foi jubilado por limite de idade de sua cadeira de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da então Universidade do Brasil, tornando-se Professor Emérito algum tempo depois. 
Em 1932, já havia obtido, por concurso, a nomeação para Professor de Clínica Cirúrgica da Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, aposentando-se em 1949. Foi Diretor da referida Escola, de 1946 a 1948. 
Foi membro fundador do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e da Sociedade Brasileira de Urologia, tendo sido seu Presidente. Membro da Academia Nacional de Medicina desde 1909, ocupando vários cargos em sua diretoria, sendo seu Vice-presidente em certa época. Entre outras sociedades de que foi membro, podemos citar o Colégio Americano de Cirurgiões, o Colégio Internacional de Cirurgiões, Honorário da Academia Brasileira de Medicina Militar, Honorário da Sociedade Brasileira da História da Medicina. 
Foi um pioneiro em várias modalidades cirúrgicas. Operou em 1902 a primeira apendicite aguda no Rio de Janeiro. Sua memória para a Academia Nacional de Medicina em 1909 versava sobre “Da necessidade da localização nas craniotomias”,  trabalho pioneiro em neurocirurgia, à época. 
Em sua vasta bibliografia, citam-se: 1. Lições de anatomia médico-cirúrgica da boca; 2. Lições de clínica cirúrgica; 3. Urologia; 4. A propósito de duas craniectomias; 5.  O problema da amputação imediata; 6 Anestesia cirúrgica; 7. O exame do doente e do diagnóstico em cirurgia; 8. Patologia cirúrgica (3 volumes); 9. Clínica cirúrgica (2 volumes); 10.  O humanismo médico; entre vários outros. 
Iniciou no ensino médico no Brasil, o método audiovisual. Desenhava no quadro negro, com giz colorido, ou em vidro fosco, com tinta guache, a anatomia, os planos cirúrgicos, com todos os detalhes vasculares, nervosos, musculares, necessários à compreensão da perfeita técnica cirúrgica. São famosas as suas chamadas “mentiras pedagógicas” com que tentava incutir nos alunos ensinamentos que depois se tornariam inesquecíveis. 
Como exemplo, conta-se que, certa vez, citou em aula um paciente, com abscesso de fossa supra-clavicular esquerda, que ao ser incisado, revelou-se uma apendicite aguda supurada. Ao notar a incredulidade dos alunos, explicou: “É a melhor maneira de ensinar, em um só paciente, a apendicite aguda, a hérnia diafragmática congênita e a mal-rotação do colon...” 
Contou-me Mário d’Almeida, colega de faculdade de Augusto e Fernando, seus filhos, que certa feita, foram os três, assistir a uma operação que o Prof. Paulino realizava em sua enfermaria 15, na Santa Casa da Misericórdia. Ao notar os três, perguntou: “O que vocês estão fazendo aqui?” Responderam que gostariam de aprender técnica cirúrgica.
Reposta do pai e professor: “Vão olhar o Brandão (Prof. Augusto Brandão Filho, seu colega de congregação e seu concorrente na clínica particular), lá vão aprender mais que aqui...”  Ele queria o melhor para os filhos e alunos. Colocava de lado o orgulho de cirurgião e de pai, e, com a sua honestidade superior, mandava os filhos aprender com seu concorrente, melhor cirurgião, mas, provavelmente, não tão bom professor como ele. 
Casado em 1903 com Maria Amelia Almeida Soares de Souza, teve três filhos: Augusta, mãe do renomado cirurgião do Rio de Janeiro, Aluizio Soares de Souza Rodrigues, professor adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e durante muitos anos, chefe de cirurgia do Hospital do Andaraí, onde formou muitos cirurgiões. Augusto Paulino Filho, seu sucessor na chefia da 15a Enfermaria da Santa Casa da Misericórdia, professor de cirurgia da Escola de Medicina da atual UniRio, Rio de Janeiro, pai de Augusto Paulino Netto, e avô de Augusto Paulino Soares de Souza, cirurgião ortopedista no rio de Janeiro. Fernando Paulino, seu terceiro filho, cirurgião de renome nacional e internacional, chefe de uma escola cirúrgica com ramificações em todo nosso país, tem dois netos médicos, Roberto Paulino, psiquiatra, e Rodrigo Paulino, radiologista, ambos bisnetos do professor Augusto Paulino. 
 
* Augusto Paulino Netto: Membro da Academia Nacional de Medicina